Everybody Hurts
Hoje fiquei sabendo que a música Everybody Hurts, do REM, foi eleita a mais triste de todos os tempos. Não sei se merece o título, mas essa é uma daquelas que deixam quem ouve – se estiver prestando atenção – "alegremente deprimido". Para potencializar o efeito, escute a música assistindo ao vídeo, que complementa maravilhosamente a música.
No vídeo, vemos um engarrafamento em uma grande cidade. As pessoas, presas dentro dos carros, não têm escolha a não ser ficar a sós com seus pensamentos. Não conversam, não riem. Mas sofrem. Estão simbólica e literalmente, empacados. Na parte inferior da tela, legendas nos permitem ler os pensamentos de cada um.
Se fosse um engarrafamento real nos dias atuais, e não um vídeo musical de 1992, cada um estaria conectado ao seu celular, falando ou mandando mensagens para alguém. Distraídos. O tédio, e os sentimentos que ele traz à tona, são coisas que passamos a temer. É preciso evitar a qualquer custo o silêncio e a solidão. Todo mundo sofre. Todo mundo sente dor. Todo mundo chora. Mas hoje em dia, tristeza é algo que as pessoas consideram vergonhoso. O certo, o normal, é estar sempre sorrindo, mesmo morrendo por dentro. Não seria isso uma espécie de ditadura?
Em 2013, o comediante Louis CK contou, numa entrevista, que uma vez estava dirigindo e o rádio começou a tocar uma música do Bruce Springsteen. A música começou a deixá-lo deprimido. Ele teve então o impulso de puxar o celular e mandar mensagens para seus contatos, para se distrair. Só que ele estava dirigindo, não podia se distrair. Então ele pensou: "Quer saber? Não vou fazer nada. Que essa tristeza me atropele como um caminhão." Louis fez o impensável: deixou-se entristecer. Parou o carro no acostamento e ficou lá, chorando como um bebê. Sabem o que aconteceu depois? "Passei a ter sentimentos felizes, pois quando você deixa a tristeza agir seu corpo manda tipo uns anticorpos que combatem os sentimentos tristes. Só que as pessoas quando sentem aquele primeira sensação triste já pegam o celular para afastar esse sentimento. Assim, não nos sentimos nem completamente felizes nem completamente tristes. A gente meio que só fica 'satisfeito com o produto'. E aí morre."
Acho que as pessoas querem se anestesiar demais hoje em dia. Músicas como Everybody Hurts ou Pais e Filhos são tristes porque não oferecem uma saída fácil para a tristeza. Elas apenas dizem, “aguente firme”, “não desista, todo mundo sofre”, “você não está sozinho.” Essas são mensagens poderosas, pois são honestas. Não são músicas sobre afogar a tristeza na bebida ou na balada, mas sobre a própria tristeza que faz parte da vida. Não foi à toa que Renato Russo deu uma bronca nos fãs adolescentes que pediram para a Legião Urbana tocar Pais e Filhos quando a banda foi convidada do Programa Livre, em 1994. “Vocês sabem que essa música é sobre suicídio né?”, disse ele para a plateia. “Essa música é muito, muito séria... Eu prefiro tocar outra coisa, mas vamos tocar Pais e Filhos.” A rapaziada vibrava, mas Renato, como poeta, queria que eles entendessem direito a mensagem da música e absorvessem a tristeza evocada pela letra. Se tal reação era rara na época, imagine hoje.