Whisky com pedras de gelo de água da chuva

Quando ele adentrou pela primeira vez naquele bar, chamou atenção de todos pela altura/peso e a cabeleira volumosa e disfarçadamente negra. Pediu uma dose de whisky com duas pedras de gelo e entre um gole e outro, se apresentou: - Sou Amaral, e não vos desejo nenhum mal (que repetia ao se apresentar), responsável por um novo empreendimento imobiliário na cidade.

Ao repetir a dose, disse que ficaria freguês contanto que o gelo para sua bebida fosse de água mineral. Capixaba, o proprietário, prometeu providenciar sem mencionar o valor que seria acrescentado.

Como um assunto puxa outro, Capixaba relatou que seus tios, todos apreciadores de whisky, usavam gelo feito com água da chuva por conter cálcio e potássio que tanto o organismo necessita. E gelo de água tratada contém cloro e flúor que tira o sabor do malte. Sem contestação.

Cinco dias depois e a chuva dando sinal que viria, Amaral sugeriu que Capixaba colhesse água e fizesse gelo para sua apreciação. Foi atendido. Provado e aprovado sem falar em valores. Agora no frízer algumas fôrmas de gelo têm o escrito: Amaral.

Só ficou sabendo que o gelo era proveniente da água da torneira com uma ‘pitadinha’ de sal para diferenciar o gosto, quando o bar mudou de dono. Uma maldade (logo para ele) que lhe deu um aperto no peito.

Meses depois, após alguns exames médicos, descobriu que seu coração estava pedindo água. Amaral deduziu que só poderia ser aquela ‘pitadinha’ de sal a causadora danosa à sua saúde.