A Verdade na Era Virtual
Toda a herança filosófica de busca pela verdade se confunde hoje com símbolos de uma cultura marcada por elementos heterogêneos e contraditórios entre si. Diante dessa gente arrebatada por comentários superficiais e burburinhos, os fatos são agora coadjuvantes nos testemunhos do mundo. Criam milícias que jogam as informações na ordenança da falsidade. Os incontáveis simulacros virtuais são os embriões que galopam aos ouvidos xucros saberes. Notícias virais contadas por não especialistas contaminam as ruas de embustes. O compartilhamento memético em repetidos cliques torna-se o elemento mais fino do planeta. É o adolescente que se politiza com polemicas vazias, a mulher que acredita em notícias sem checar as fontes da informação. Um ambiente de olhos vidrados apenas em crenças e desejos pessoais.
A nova caverna platônica está posta nas mesas dos desavisados. A verdade é agora um mergulho raso de aventureiros bestializados, locuções reproduzidas em objetos luminosos a divertirem com bobagens a massa sedenta de novidades. Dessa forma, a geração de hoje se faz em mil lições mal aprendidas digitalmente. Ela observa o calendário de inovações high techs enquanto reproduz em memes asneiras que beiram a Idade das Trevas: a Terra é plana. O homem nunca pisou na lua. O nazismo é de esquerda. O capitalismo é bom para os pobres. O criacionismo explica a origem da vida humana.
Nas redes sociais, o palco de um narcisismo bastante doentio: os likes das redes sociais enaltecem os egos vazios de conteúdo, os vídeos bem-humorados distraem às pessoas e tornam as mesmas alheias aos problemas coletivos. As mensagens virtuais de bom dia potencializam bestializadas vértebras de otimismo enquanto as notícias virais vomitam trivialidades ao redor. A era da tal pós-modernidade é vendida como gloriosa epopeia do saber: espaço em que extensos trabalhos monográficos são reduzidos a vídeos de três minutos... Pesquisas em laboratórios convertidos em inúteis polemicas de youtubers.
Parece que a queda da Bastilha composta por obscurantismo não foi realizada nos dias atuais. O mundo das fake news é um frio estômago que devora e vomita toda a verdade. Assim como a mitologia bíblica, os indivíduos estão presos na barriga de um animal que se alimenta da indiferença perante os acontecimentos, menosprezam causas coletivas e constroem o que classificam verdade a partir de crenças pessoais e apelos emotivos - desconsiderando os fatos e a razão como elementos do conhecimento. O que sobra desse irracionalismo global é um campo político alienado, marcado por pessoas despolitizadas e que mal sabem qualificarem ideologicamente a diferença entre direita e esquerda – presas fáceis de políticos ao implantarem governos privatizantes e elitistas nos espaços públicos.
19.07.2019