MULHERES GUERREIRAS II

Há alguns anos, escrevi “Mulheres guerreiras” – poema homenagem ao Dia das Mulheres.

Entre outras, entre tantas, e especialmente dedicado à minha Mãe, a quem sempre considerei heroína por sua batalha contra o câncer, que há 50 anos reduziu, agressiva e abusivamente, o diagnóstico ao patamar de desenganada... perdida.

Inconformada com a perda que lhe fora dolorosamente imposta, não apenas a perda física, mas a perda familiar, ela não se rendeu. Ser mãe estava acima de qualquer nível na escala da Vida.

E ela lutou, bravamente, contra todos os prognósticos. E perseverou e venceu as inúmeras batalhas, por longos anos, para preservar, em primeiro lugar, a família, os filhos tão jovens, a perspectiva de vê-los criados, a esperança do futuro para suas crianças e, mais adiante, a oportunidade de reinventar e ressignificar a Vida através das crianças que seus filhos gerariam: seus netos, com quem ela já sonhava conviver.

Poderia discorrer sobre a dor, o pavor diante da sensação da morte premente; era tão jovem, ainda; as dúvidas, a incerteza, a expectativa a cada nova possibilidade de tratamento, aos quais foi submetida por oferta da ciência médica, na época sem muitas garantias. Submeteu-se para driblar a presunção do pior. Ganhou tempo, porém abateu-se a cada recidiva. Até que, fragilizada, descansou... Foi guerreira, vitoriosa – viu seus filhos adultos e curtiu alegremente as crianças do futuro – seus netos!

Hoje, por analogia, dedico esta crônica às mulheres das Guerras – de todas, tantas, muitas...

Sob a égide da Guerra que assola a Ucrânia, diante da ganância-câncer que semeia a morte, que arrasa, destrói, desconstitui, que desconsidera a família, que separa casais, os pais de seus filhos, os filhos de seus pais, jovens noivos e namorados de suas amadas... mães que fogem na bravia luta para proteger os filhos, pais que ficam para combater, defender, quiçá preservar sua Pátria para que seus filhos possam voltar, quem sabe, um dia.

Mulheres guerreiras que deixam suas casas com o mínimo indispensável para alimentar seus filhos diante da fome imposta; levam consigo apenas documentos, fotos, valores (talvez), algumas roupas. E não descartam seus animais de estimação, inclusive.

Mulheres tenazes que se despedem de seus homens: maridos, filhos, pais, netos, sem saber SE e quando tornarão a vê-los.

Mulheres resolutas, corajosas, convictas de seus deveres. Que têm pela frente o futuro baseado na incerteza a que lhes submete a ambição dos poucos que detém o poder.

Mulheres que veem seus sonhos destroçados na infinidade de vidas perdidas, pela insegurança do amanhã.

Mulheres guerreiras – jovens, idosas, meninas, que guardarão em seus olhos e em suas mentes o medo, a dor, as imagens inefáveis que hão de permear suas lembranças para sempre.

Para elas, mulheres e meninas de quaisquer nações destruídas pela crueza de ideologias bárbaras, pelas abomináveis guerras, de ontem e de hoje, pautadas na ambição, a minha homenagem.

Deus as guarde na palma de Sua mão!

Capão da Canoa, RS

Em 08/03/2022