Casca verde com miolo podre

Parnaíba, 06 de setembro de 2009

Nos últimos tempos, tenho escutado bastante a celebre canção de Raul Seixas “Meu amigo Pedro”, e lhes digo de antemão, não é por mero acaso. O período que nos habituamos a chamar de maturidade (que chega no fim da adolescência, e para alguns antes, ou para outros bem depois) é acompanhado de uma enorme carga de responsabilidades, problemas e dilemas. Dentre os termos mais usados por indivíduos da faixa etária de 20 a 50 anos, creio eu, que o mais utilizado seja:

– Estou sem tempo!

O que é absolutamente normal, pois à medida que alcançamos nossa independência econômica familiar, e desejamos nossos próprios bens materiais e afetivos, recebemos em troca, uma herança proporcionalmente igual de obrigações e dividas, taxas cobradas pela vida e pela sociedade (e é aí que pego carona em mais um termo popular):

– Fazer o que, né? !

No entanto, isso não é desculpa, para que muitos “seres pensantes” ao desabrochar de suas obrigações, deixem que estas, os tornem chatos, rabugentos ou ignorantes. Já presenciei muitos amigos – será que ainda poderia chama-los dessa maneira? – se deixarem apodrecer perante às primeiras dificuldades. “Criaturas de carne e osso” que, depois de levarem as habituais “rasteiras de aprendizado”, optam pelo fim da gentileza, se tornam ásperos, indiferentes e esnobes, e em muitos casos, pior ainda, esquecem por completo a educação, tão importante na esfera social na qual estamos inseridos- Para constar: quando falo educação, me refiro à humildade e não a etiqueta.

Tropeços e cicatrizes são inevitáveis, mas na última década presenciei inúmeros conhecidos da infância, se deixarem levar pelo egocentrismo de um diploma ou pelo egoísmo de uma farta conta bancaria. Se achando os certos e os inquestionáveis, desfilam com seus paletós e gravatas bem passados, seus sapatos novos ou bem engraxados, a pisar, nos humildes que cruzam seus caminhos, ou no mais grave dos casos, nos infelizes que deles necessitam, para levar o pão de cada dia para suas esposas e filhos. Semestre passado, tive a tristeza de perceber que perdi mais um amigo, um dos que me eram mais próximos, no alto de seus vinte e poucos anos acabou ele, por enveredar – parafraseando o Nostálgico Guerra nas Estrelas- para o “lado negro da força”, e é para ele, e para tantos outros da sua estirpe, que dedico esta canção (cujo nome foi citado acima):

– Aumenta o volume, que é Raul!

https://www.youtube.com/watch?v=M-CFU2V7YF0

Claucio Ciarlini
Enviado por Claucio Ciarlini em 08/03/2022
Código do texto: T7468388
Classificação de conteúdo: seguro