Meu melhor passatempo

Penso que o cão, além de melhor amigo do homem é também, um maravilhoso tônico para o nosso espírito. Havia muito que eu não tinha a companhia de um animalzinho doméstico para alegrar meus dias e agora isto é um fato e estou aproveitando o máximo que posso. É, na verdade, uma cadela, ou melhor uma filhota que apareceu de repente e até hoje não sei de onde ela veio e muito menos a quem pertencia. Coloco o verbo assim, no passado, porque agora ninguém vai mais tirá-la de nós. somos seus donos por direito adquirido a partir do momento em que demos abrigo a um ser abandonado à sorte da rua. Assim pareceu porque, num belo dia entra minha mulher portão adentro e acompanhando-a, esta dádiva inesperada.

Coloquei nela o nome de Corinha, por nenhuma razão especial, senão porque achei simpático. Pense numa cachorra alegre, que não para quieta, mas corre o tempo inteiro no nosso quintal, onde não falta espaço para as suas estrepolias. Ela realmente demonstra que é ainda uma criança esbanjando vida e energia. Agora, quando quer realmente atenção não nos deixa em paz. Tem momentos em que preciso ameaçar bater nela, porque quando começa não quer parar de jeito nenhum. O ruim disso é que está mordendo tudo que vê. Nada escapa. Nosso sofá da varanda, os pés da cama e da mesa e por aí vai. Estes não sentem dor, mas quando se trata do nosso corpo ela não escolhe lugar. Tenho pequenas marcas de seus dentes pontiagudos em várias partes de mim, como braços, coxas e até no ombro. Claro que só quer brincar, mas ela mesma desconhece a força que já cresce em suas mandíbulas.

Outro hábito que não pratico com os animais que crio é dar ração. Sou do tempo antigo em que ração era coisa quase inexistente. Meus pais criaram cães saudáveis e longevos alimentando-os com a mesma comida que consumíamos, pois este era o jeito natural de tornar nossos bichinhos realmente felizes. Acredito que ração não é alimento ideal para cães por ser altamente industrializado e possuir substâncias tóxicas em sua composição. Chega-se ao cúmulo de desaconselhar qualquer outro alimento além da ração. Os cães e gatos e todos aqueles a quem é dada ração como único e exclusivo alimento não são diferentes de nós em se tratando de paladar. Eles ficam contentes com a diversidade dos gostos peculiares contidos em cada alimento e jamais podem se sentir felizes comendo a mesma coisa todos os dias de sua vida. Quem de nós suportaria comer o mesmo alimento, por mais delicioso que possa parecer? Considero uma maldade fazer isso com os animais.

Nunca havia morado em uma cidade tão populosa de cães como a que estou morando atualmente. O lugar está repleto de pet shops e suas pilhas de sacas de 50 quilos de rações de todos os tipos. Não há praticamente uma casa por aqui que não tenha pelo menos um cão. Durante algum tempo precisei fazer um trabalho de vendas em que visitava casa por casa a fim de mostrar o meu produto. Mas tive que parar depois de alguns dias, já que se tornou impossível continuar por causa do barulho causado por esses animais que quase sempre eram os primeiros a me receber no portão; não tive outra saída senão desistir.

Na rua onde moro há muitos cachorros perambulando dia e noite. Eles não possuem donos, mas não são animais abandonados porque não deixam de ser cuidados pelos moradores do bairro. O povo de Araruama é hospitaleiro e gentil; percebi isso logo nas minhas primeiras semanas na cidade. Na verdade, como já mencionei, nunca vi um lugar para ter tantos cachorros como aqui. E embora falando assim, acabei também sendo mais um morador contemplado com uma cadela que, por sinal, é uma das minhas melhores distrações ultimamente. E ela agora possui um amiguinho. Uma bela noite, Corinha decide, como sempre faz, escapar pelo portão sempre que o vê aberto, dando sopa. E numa dessas escapadas, eu fui lá fora procurar por ela; já era noite e vi um animalzinho de longe correr em minha direção assim que me viu. Somente quando se aproximou é que percebi que não era ela, mas um filhotinho mestiço, ao que me pareceu; e muito bonito.

Agora, sua dona vem, dia sim, dia não pegar o cãozinho que pertence ao seu filho. Ele sempre dá seu jeito de fugir para brincar com Corinha. E como brincam! Não param um segundo. Parece que nunca se cansam. Meu receio é: se ele não vier mais para o nosso lado, como vai se sentir minha amiguinha? Já está tão acostumada e anda tão feliz ….

Professor Edgard Santos
Enviado por Professor Edgard Santos em 08/03/2022
Reeditado em 08/03/2022
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