Nossa terra minhas gentes...(Alberto Sordi no nosso Namibe. Os bastidores das filmagens.)

Nossa terra , Moçâmedes ao sul de Angola, sempre com muito a contar... Histórias bonitas e que tanto nos orgulham.

Também cenário de cinema, e seria inaceitável não relembrar a participação da nossa gente daquele acontecimento. O nosso deserto do Namibe serviu de locação para uma produção italiana no final dos anos 60, 1968 precisamente, reconhecido como cenário ideal para uma comédia simples e leve, com nativos , animais exóticos e cenários extravagantes tão quanto paisagens deslumbrantes. Assim foi, e lá tivemos uma equipe cinematográfica com seu protagonista principal Alberto Sordi , artista italiano comediante numa época que comédias arrastavam platéias. Infelizmente esta produção tornou-se assunto de polêmica pois faltou empatia e principalmente conhecimento e esclarecimento para que se desenvolvesse uma história dentro da vida e cultura angolana.Os cineastas naquele tempo viviam longe da realidade africana quanto mais de um país chamado Angola . Assim sendo, o filme gerou um enorme incômodo especialmente para nós que infelizmente só viemos a conhecer o resultado após o lançamento nas casas de espetáculos de vários países .Uma série de falhas e erros de gravação negaram uma narração precisa da nossa Angola até mesmo sem qualquer destaque à presença de nativos que de alguma maneira ajudaram no set de filmagem como figurantes. Eram considerados objetos em cena e nada mais além disso. A palavra “Angola” não era importante. Com referência apenas a África, só em Portugal se acertou um título esclarecedor do local de filmagem :“ Um italiano em Angola”.

Mas sempre fica alguma coisa boa pois lá estava a nossa gente e aquela natureza exuberante daquelas dunas, planícies, terras de areal compacto pedra solta e cascalho. Dividiram com gente da nossa terra os primeiros raios de sol em tons amarelo avermelhado de um deserto como nunca antes visto , tal como o crepúsculo do pôr do sol ao fim das tardes de brilho espetacular.. Sentiram, nas noites geladas, mãos e dedos entorpecidos depois de corpos suados em dias tórridos beirando temperaturas de quase 50 º C apenas poucas horas antes. Conheceram o breu do deserto onde, o uso de braseiros e gambiarras orientavam e davam a segurança necessária a quem o atravessava. Cabras de leque, guelengues( os antílopes do deserto), avestruzes, zebras, olongos e as incômodas hienas a chorar a noite inteira tão quanto a arranhar a lona das tendas onde alguns dormiam, completavam a aventura.

Mas não estavam sós em meio àquela imensidão. Nossos fiscais de caça, Tito e seu filho Abílio foram contratados para orientá-los e ajudar em meio ao set de filmagem.Felizes por poderem colaborar levaram toda a família para assistir às cenas principais.

Tudo acontecia conforme o previsto salvo quando aqueles senhores italianos surpreendiam ao recorrer ao inimaginável para se solucionar imprevistos. Um dia, ao constatarem a falta de um figurante negro para completar o elenco do dia, olharam para um grupo de familiares e amigos de Tito e Abilio e pediram a uma amiga da irmã de Abílio, Maria, que se juntasse aos nativos.

Mas como posso participar da filmagem se eu sou branca? - perguntou ela

-“sem qualquer problema.Temos aqui uma tinta preta preparada para esses imprevistos e vamos pintar a senhora”

E assim foi .Preta , toda pretinha e lá estava ele em meio aos artistas em cena. A caracterização estava tão perfeita que não foi reconhecida pela tia Maria que em grande aflição por ali andava às voltas à procura tentando reconhecê-la.

E outras coisas foram acontecendo e havia a necessidade de solucioná-las. Apesar de comédia, era uma proposta de filme com algumas cenas mais arriscadas, audaciosas, e então acharam necessário ter um dublê para substituir Alberto Sordi nos momentos de maior ação. E , assim foi convidado Abílio Tito, o nosso fiscal de caça que cumpriu lindamente o papel de dublê. .Afinal estava em “casa”, e absolutamente à vontade e em meio à sua rotina habitual tanto como guia quanto de caçador profissional .E, chegando ás filmagens finais, auge do filme, havia uma cena difícil de ser executada. Pois bem, um jipe em alta velocidade a perseguir um antílope a galope.

Arma em punho, e um tiro certeiro em alta velocidade? Cena real ? Era com ele! Abilio Tito prepara-se então para a cena: apoia a arma na janela, ajusta o braço e mira no antílope em corrida. Tiro certeiro . Animal abatido.

Lembranças saudosas , momentos divertidos e recordações carinhosas como o autógrafo e abraço do grande artista à pequenina Isabel, filha mais velha de Abílio na época ainda com 5 anos .( há uma foto que comprova este momento.)

Orgulho imenso do nosso herói conterrâneo Abílio Tito que protagonizou um momento real, fantástico, e matou um antílope a galope para uma produção cinematográfica lá das “Europas” .

Lana

Lady Lana
Enviado por Lady Lana em 08/03/2022
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