Sobre Futebol e BBB
Todo ano é assim! Começa o Big Brother Brasil, e logo aparece um bocado de gente pra criticar, dizer que o programa é um lixo, um desserviço… Mas será mesmo?
A atração, que teve início no ano de 2002, apresentada inicialmente por Pedro Bial e nos últimos anos por Tiago Leifert, consiste num reality show, que até possui alguns aspectos lamentáveis e recorrentes nas suas edições, pois afinal, se trata de um programa que reúne vários indivíduos numa casa, que trancafiados e filmados 24 horas por dia, acabam sendo um espelho da própria sociedade, que, parte dela, ao se ver refletida, tende a não querer aceitar. E, obviamente, por se tratar do ser humano em seu melhor e pior, algumas atitudes deploráveis acabam por emergir. No que pergunto: o BBB não presta pra nada?
Façamos uma comparação com o Futebol, ou mais especificamente o assistir/torcer por futebol. E desde já (antes que alguma pedra me atinja), não estou me referindo à prática, pois o futebol traz inúmeros benefícios para a saúde, é uma prática esportiva tão importante quanto às outras. Estou me referindo ao papel como espectador, daqueles que acompanham, vibram, até mesmo enlouquecem por seu time de coração, a cada semana, seja pela telinha ou pelo telão.
Já encontrei com muita gente por aí que, sobre o Futebol, me falou: Faz sentido perder “duas horas” assistindo 22 seres correndo atrás de uma bola? E eu sempre respondi: para os que gostam? Faz todo o sentido! Até porque se formos pensar, guardadas as diferenças (e antes que os radicais me insultem), gostaria de analisar alguns pontos. O primeiro é sobre os acontecimentos deploráveis que muitos gostam de apontar na hora de detratar o programa, como é o caso de xingamentos, brigas e outros tipos de atitudes lamentáveis. E nos jogos de Futebol, não tem não, né? Ah, Claucio, mas no Futebol, isso tem punição. E lá também. Quando não dentro da casa, mas fora, no público, que costuma (e depressa) eliminar os participantes mais desumanos.
Outro ponto que gostaria de destacar é a acusação de que o Big Brother só tem superficialidade, que não conscientiza. E esse dedo apontado (com três retornando para julgador) é direcionado também para o Futebol, embora em menor grau. Porém, assim como o Futebol também conscientiza, quando numa partida se faz um minuto de silêncio, ou quando jogadores de um time trazem na camisa ou em cartazes algum protesto, no BBB não é diferente, pois através dos erros de conduta dos participantes, surgem-se oportunidades de debater temas importantes como: homofobia, racismo, preconceito de classe, bullying, etc.
E digo mais! Mesmo que você, leitor que odeia o BBB ou o Futebol (ou ambos) possa não querer acreditar, a discussão sobre esses temas num programa desses de altíssima audiência como é o reality show global, acaba surtindo um efeito mais poderoso, em termos didáticos, do que numa palestra. Não que eu esteja subestimando a importância de uma palestra com um especialista na área. Longe disso. O problema é que muitas vezes aquele ou aquela que tem preconceito, seja qual for, vai “correr longe” de palestras sobre os temas. Agora, quando a discussão surge em meio aos romances e brincadeiras de um Big Brother ou no âmbito das disputas e gols de uma partida, acaba por pegar de surpresa esse público, que naquele momento está de olhos, ouvidos e até coração aberto. – Ah, Claucio, mas isso também pode ocorrer nas novelas, nos filmes e canções. Sim, mas não sou eu a criticar a dramaturgia, o cinema e a música. É você, aspirante a crítico, que acha que uma forma de entretenimento é válida e outra não.
E um último ponto. O futebol emprega. E o BBB, não? Quantos cinegrafistas, editores, roteiristas, assistentes e Youtubers não devem seu pão de cada dia à atração?
O fato é que tanto o Futebol, como o BBB, possuem: emoção, torcidas, superação, erros e acertos, momentos engraçados, um prêmio na final e sobretudo haters, que adoram criticar aquilo que não os convém, que acham que a vida deve ser resumida ao que gostam, ao que pensam, buscando a todo custo moldar o mundo conforme suas vontades, mas que no fim das contas, e muitas das vezes, não passam de chatos de galocha. E é possível sim, ser consciente, mas também se entreter, ter uma dose de pão e circo, afinal a vida já é dura demais, principalmente em pandemia.
Claucio Ciarlini (2021)