Eu não te disse?
Me formei. Começo dizendo isso. Reitero isso. Confirmo e reafirmo. Me formei. Foram 4 anos, os mais loucos, intensos e confusos da minha vida, e, tenho certeza, certamente não serão os últimos. Hoje, com meu grupo de melhores amigos da faculdade, família e minha melhor amiga, fiz uma série de fotos de formatura. Fotos que estão eternizadas não somente digitalmente, mas nas janelas da minha memória. Como historiador, não há nada que eu faça melhor do que registrar momentos, histórias e sensações.
Hoje, depois de 2 anos, eu entrei na Urca, vi o mar pela primeira vez desde que tudo mudou, revi amizades, construí laços, encerrei tantos outros e pude observar o quão louca a vida pode ser. Hoje, eu também entrei na Lapa, não pela primeira vez de corpo, mas a primeira vez de coração. Hoje, eu ri até minha barriga doer, gargalhei alto até ter certeza que minha alegria tocaria o céu. Hoje, eu dancei charme em um baile, mesmo sem saber dançar, mas eu tentei. Tempos difíceis pedem danças furiosas, como disse Alice Walker.
Hoje, eu entendi que os sonhos de Deus são tipo um dia muito quente no Rio de Janeiro, cercado de amor, dança, algumas bebidas e danças desordenadas que te fazem rir de si mesmo. Hoje, eu chorei no Aterro do Flamengo, chorei vendo a UNIRIO, chorei lembrando de histórias, chorei construindo histórias.
Hoje, eu percebi que fazer um TCC sobre o Rio de Janeiro foi a minha maior prova de amor sobre esse purgatório da beleza e do caos. Hoje, eu me vi no poema Still i rise da Maya Angelou e entendi que porto em mim o sonho e a esperança do escravo. Hoje, eu fui o primeiro membro da minha geração familiar a estender um canudo numa foto e gritar: EU VENCI!
Hoje, eu terminei de assistir a série documental da Elza e Garrincha. Hoje, eu chorei vendo o documentário da Elza e do Garrincha. Hoje, vendo novamente a Mulher do Fim do Mundo, eu entendi que a vida não foi fácil para mim nos últimos anos, que ela foi o avesso do inverso da facilidade, mas, tudo bem, eu não sou a vítima. Eu nunca fui a vítima. Eu jamais serei a vítima. A vida me bateu, mas em todas as vezes que ela levantou a mão pra me bater, eu já estava com as minhas mãos segurando no pescoço dela.
Emicida, mais que ninguém, sabe que, do lugar de onde eu venho, nem sempre as pessoas têm motivos pra seguir, mas a gente levanta e anda, deixando na chuva de confetes e na avenida toda a dor, porque nos reerguemos, porque somos fortes, porque dançamos furiosamente em tempos difíceis, porque abraçamos o caos e o entendemos como parte de tudo.
Respeitáveis leitores, voltemos ao início: me formei.
Eu não disse que chegava lá?