Era uma noite quente em Braunau, pequena cidade ao norte na Áustria, então pertencente ao império Austro-Húngaro, 60 km de Salzburgo. Alois chegou do trabalho na alfândega, beijou o rosto da esposa, Klara, e foi tomar banho. Ela colocou a comida na mesa, porco com batata de sempre, e ambos jantaram tomando vinho. A rotina do trabalho dele não inspirava grandes conversas e o silêncio era quebrado pelo som dos talheres cortando a carne. Aquela noite de abril de 1888 não prometia muitas emoções ao casal. Klara seguiu pro banho e o marido já foi deitar. Quando os dois estavam juntos na cama, começaram a se tocar, sem entusiasmo; Acabaram se amando. Na hora do clímax, ela sentiu um arrepio estranho, quase um leve tremor. Cada um virou pro lado e dormiu. Klara não tinha o hábito de sonhar. Mas naquela noite um pesadelo tomou conta do seu sono. Via cenas de guerra, tanques invadindo, soldados atirando, gente morrendo. Muita gente morrendo. Morrendo como nunca tinha imaginado antes. Corpos esquálidos atirados em valas comuns, aos milhares. Grandes galpões entulhados de pessoas que morriam respirando algo que lhes fazia muito mal. Homens fardados riam diante daquele inferno, empunhando armas, cães e cassetetes com que, na maior crueldade, batiam naqueles infelizes com furor. De vez em quando, Klara acordava, via o marido dormindo profundamente ao seu lado e respirava aliviada. E voltava a dormir, retornando para aquelas cenas de horror sem trégua. Depois de nove meses, nasceu Adolf, bebê encantador, trazendo alegrias para a sua família.