GUIZOS DO PRAZER
Daí os amantes se untaram, se benzeram, se lambuzaram.
Se refizeram num só.
Assim perderam sua identidade, seu código genético,
sua alma original, seu chão original.
E foram em frente enclausurados um no outro,
se embrenhando na melhor jornada de suas vidas,
Nesse frenesi alucinado, viraram do avesso os sonhos,
gozos, galopes e zunidos.
Misturaram suores, voos castigados, desfechos proibidos.
Daí os amantes se enervaram num rodopio estranho,
assustado, arrepiado.
Alforriado.
E se perceberam vestidos, escondendo a nudez que outrora
os cerzia, os embalsamava, os arrepiava até não poder mais.
Aquele cheiro proibido abraçou todo ar e destampou ganas
que jaziam desarmadas, desanuviadas.
Então os amantes destroçaram com guizos do prazer
aquelas tarântulas trancafiadas a 7 chaves.
E foram dormir, esquecendo seus uivos, agora frangalhados suspiros.
Suspiros que nunca mais cambaleei,
nunca mais amamentei,
nunca mais.