Nossas terras minhas gentes ( S. Champalimaud no nosso deserto. E quem foi o bebé Curoca?)

Datas diferentes , e duas histórias que não coiincidem em épocas , mas coincidem em narrativas no mesmo local....Coisas da nossa terra, minha terra Moçâmedes/Angola , e daquele deserto lindo.

Muitos de nós, diria eu que a grande maioria conhecia toda a região da província do Namibe e a não perder a Espinheira no parque Nacional do Iona, uma reserva de caça protegida que cobre uma área de 15.000 Kms quadrados no canto sudoeste do país, com o rio Curoca a Norte e Rio Cunene a sul.Uma maravilha de dunas móveis, planícies , montanhas e falésias de natureza exuberante. Reserva atualizada para parque em 1964 , antes muito rica infelizmente hoje em dia ainda muito danificada pela guerra civil mas já com vários projetos de recuperação e reconstrução da infra estrutura muito importante para trazer o turismo de volta.

Ficaram-me lembranças para toda a vida deste parque, e não posso deixar de salientar o que ainda toca profundamente as minhas recordações: fortes neblinas que acontecem quando o ar frio e úmido da corrente marítima de Benguela encontra o ar quente e seco do deserto, tão quanto as corridas a galope de zebras e guelengues por aquele mundo de planícies ao acordar no horário do nascer do sol. Era abrir a janela e me deparar com aquele espetáculo.

A região da “Espinheira”, e mais especificamente pela beleza do vale dos rinocerontes , conheceu visitantes importantes; safaris , aventuras e sonhos realizados de personagens ilustres e ricas tal como em 1966 o S. Champalimaud o mais rico industrial de Portugal. Apaixonado pela natureza e locais exóticos com pouco turismo, tudo o que ele queria para um safári fotográfico e encontro com o sonhado rinoceronte branco no “vale dos rinocerontes”. E assim foi, e lindamente preparada , pelo exército português uma infra estrutura à altura de seu conforto num acampamento onde não faltava nada....Financiado por ele próprio havia luz elétrica a funcionar com um gerador que dava arranque a um motor a diesel tipo jeep( afastado do acampamento por causa do barulho), wc , ducha com água quente fria e um cozinheiro chef.Champalimaud foi recebido pelos nossos guardas fiscais de caça Titos, pai e filho, inconfundíveis com seus calções e balalaicas de 4 bolsos cor caqui, meias altas até um pouco abaixo dos joelhos , botas à prova da mordida dos lacraus e chapéu de caçador com abas largas e planas e fio de apertar ao pescoço.

Cenário montado, máquinas fotográficas em punho e ...seguiram em frente. Infelizmente não conseguiram encontrar nenhum rinoceronte mas a satisfação e encantamento de Champalimaud foi tanto que agia como se tivesse visto uma dezena deles.

Minha(nossas) homenagem e admiração por este senhor: ele não estava em África para safaris suicidas e muito menos pensava em colecionar troféus. Sua grande aventura e prazer era um registro fotográfico das belezas daquelas terras , mais precisamente do nosso deserto.

Bebê Curoca foi outra nossa história . Um bebê rinoceronte lindo, lindo. Os Titos, pai e filho, capturavam animais selvagens perdidos ou crias desgarradas para jardins zoológicos como por exemplo o de Nova Lisboa, Lisboa/capital e para nosso querido Parque Infantil de Moçâmedes.Para Lisboa foi o bebê Curoca capturado pelos Titos no início dos anos 50 neste" vale dos rinocerontes" na Espinheira na época do governador do Distrito Nunes da Ponte que acompanhou, muito de perto , toda a história do filhote nascido no local onde Champalimaud procurava por um rinoceronte branco alguns anos depois.

Bebê Curoca, levado para perto da ponte de cais na praia das Miragens foi colocado num cercado exclusivamente construido para ele .Policiais revezavam-se para cuidar do animal tão quanto o veterinário da cidade na época Dr Trigo, meu padrinho. Meu padrinho construiu uma relação muito proxima com Curoca ao ponto dele mesmo , e por pena , ter financiado ( depois ressarcido do valor) o embarque urgente do animal atendendo às condições precárias que se encontrava.

Felizmente chegou ao destino sem qualquer problema e reencontrou-se muitos anos depois com o "tratador" veterinário numa visita ao zoológico em meados dos anos 70 . Curoca reconheceu-o de imediato e avançou em passo de corrida . O tratador, aflito, correu para eles e ao saber que eram velhos conhecidos manifestou-se surpreso pois , ainda não tinha visto nada igual num rinoceronte

Histórias lindas, saudades eternas.

Lana.

Lady Lana
Enviado por Lady Lana em 04/03/2022
Reeditado em 04/03/2022
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