Carnaval no Paracuru. Seis anos de muita alegria!
O primeiro carnaval de minha vida foi no Paracuru, me apaixonei pelos dois: Paracuru e o carnaval.
Não que eu seja um folião de carteirinha, mas, me atrai essa coisa de ver muita gente num só local, totalmente desligados da vida e completamente ligados num só movimento que une a música, dança, fantasias, mela mela, grupos, liberdade, nada a ver etc.
Meus seis primeiros carnavais foi no Paracuru, de 1979 a 1984. Em cinco deles fiz parte da comissão, em geral formada por 2 únicos elementos, que organizava a parte dos convites e hospedagem das pessoas que dividiriam as despesas da casa no carnaval.
Em geral, esse local possuía uma densidade demográfica altíssima, pois imaginem como é colocar uma média de 30 ou mais pessoas numa casa com apenas 2 quartos, 1 banheiro, sala, corredor, cozinha, uma pequena área e um quintal.
Lendo, vocês podem estar pensando: "Meu Deus, era uma verdadeira loucura, um caos total!". E era, mas, quem dera todos os caos pudessem ser tão bons como aqueles!
Não tinha essa coisa de escolher acomodações, os espaços iam sendo preenchidos na ordem de chegada. Essa era uma das vantagens de organizar a bagaceira, sempre éramos os primeiros a chegar!
Eu e um ex-parceiro inseparável, dividiamos a coordenação da maioria desses eventos. Éramos também a referência musical do grupo, eu no violão e ele na percussão. Já passamos por situações em que não tivemos como desfrutar o dia de carnaval fora da casa, pois como haviam vários pequenos grupos, começavamos a cantar na saída do primeiro, depois do segundo e assim sucessivamente até o último. Quando estávamos nos preparando para sair, eles começaram a retornar, até o grande encontro geral no início da noite.
Normalmente éramos a ligação entre esses foliões da casa, pois na maioria das vezes, eles não se conheciam entre si.
O repertório musical adotado se baseava no tipo de grupo presente no momento de sua execução, passava pela marchinha, frevo, samba e tudo de novo que fosse possível ser incorporado ao nosso cardápio carnavalesco.
Era comum a gente levar alguém para cuidar da alimentação e da arrumação da casa. Essa comodidade fazia parte do queixo utilizado para atrair as pessoas, que viam o fato, com a importância que ele realmente tinha e, portanto, usavam todo o seu tempo para brincar e curtir suas ressacas.
Nesses anos o carnaval no clube do Paracuru ainda reinava, muito embora esse espaço dividisse o público com o Aurenir. É bom registrar que durante o dia, o Ronco do Mar era o centro do movimento de pessoas que buscavam realçar suas belezas com o bronze solar e, marcar seus esquemas, na calada de seus argumentos e atos.
Me chamava a atenção algumas figuras presentes, uma delas, por exemplo, se vestia como um personagem e onde você a encontrasse, não importando a hora ou lugar, ele estava melado e incorporado nele. Essa figura, que não sei o nome, compareceu a praticamente todos os carnavais em que estive.
Outra de minha lembrança, cujo nome creio ser Zé Francisco, chamava a atenção pelo riso farto, a pele bem negra e a facilidade de se relacionar com toda galera por onde passava.
O mela mela também era destaque, muito embora eu sempre ficasse pelas beiras, vendo aquela sujeira proporcionada pela maizena, ovo, colorau, espuma e outros elementos "sujantes".
Nem sempre tinha graça, pois os "sem noção" sempre existiram e, feito as baratas, parecem que são resistentes ao tempo e às catástrofes.
O banho de bica era também muito explorado, em especial por aqueles com pouco acesso à água ou, muito acesso ao álcool.
Para se obter um resultado tão positivo na escolha dos grupos que nos acompanharam durante o período de cada carnaval, com níveis altíssimos de alegria, executavámos uma receita simples e de muita eficiência e eficácia.
Juntei pessoas amigas e alegres, com uma ou duas frescas e insuportáveis (para evitar a perfeição), numa cidade linda e agradável, numa festa com muito riso, música e gente para todos os tipos de relacionamentos e sonhos.