COSTELINHA E DALMALATA

 

Costelinha era o nome do cachorrinho dos netos de Dona Nilva, nossa vizinha no Bairro Hugo Lange. Era um vira-lata bonitinho, de pelagem cor de mel, certamente, o resultado do cruzamento de um cão comum com outro animal de pedigree. Na casa da avó os meninos tinham dois outros cães: um Dálmata fake, também filhote de um animal da raça Dálmata com um vira-lata. Não lembro mais o nome deste porque meu falecido marido o batizou de Dalmalata e era assim que o chamávamos, não em frente à vizinha, por certo. O outro cão era o Tibor. Este um Pastor Alemão legítimo que tomava conta da propriedade e metia medo em qualquer desavisado que ousasse se aproximar. Tibor tinha um latido forte e ameaçador que nos acordava à noite quando algum gato aparecia no alto do muro desafiando-o a alcançá-lo. E gatos não faltavam naquela vizinhança.

 

Dona Nilva faleceu faz alguns anos e nós nos mudamos para outro bairro, ainda antes de sua partida. Seu marido, o Sr. Amaury, possuía uma velha Kombi com a qual fazia fretes. Eram uma família de classe média baixa que sobrevivia de bicos. Seu filho mais velho, o Fabrício, imigrou para os Estados Unidos na década de 1980 e deu-se bem por lá. Trabalhava na instalação de equipamentos para TV a cabo, uma novidade na época. De lá não mais voltou, a não ser uma vez para visitar os pais.

 

De uma feita, estávamos esperando um táxi para nos levar à Rodoviária, onde iríamos pegar um ônibus para Foz do Iguaçu. O carro estava demorando muito a chegar e íamos ficando aflitos, esperando no portão, com as malas, quando o Sr. Amaury ao nos ver apreensivos, ofereceu uma carona.

 

Nunca pensei que a Kombi estivesse em tão mau estado. Bastante suja por dentro, apresentava um grande buraco no chão. Acomodamo-nos como pudemos sobre os assentos, onde as molas furavam o estofamento, e fomos nos segurando onde podíamos para não cairmos na fenda por onde víamos o asfalto correr rapidamente. Uma queda naquela falha poderia ser fatal. Foi uma aventura que não estava em nossos planos. Felizmente, chegamos sãos e salvos à Rodoviária.

 

Esse mal cuidado veículo foi responsável pelo falecimento do vizinho. O motor morreu justo sobre a linha férrea no Bairro do Capão da Imbuia, quando um trem se aproximava. O maquinista freou, porém o trem só foi parar a metros de distância, levando o veículo junto. A porta do motorista se abriu e seu corpo foi arremessado longe, batendo fortemente a cabeça..

 

Não foi uma fatalidade. Foi uma tragédia que poderia ter sido evitada.

 

 

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 02/03/2022
Reeditado em 15/02/2023
Código do texto: T7463923
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