EU, O RECANTO E A PANDEMIA
Conheci o Recanto das Letras a cerca de cinco anos, através da sonetista Patrícia Neme. "Maktub", de sua autoria, foi minha porta de entrada. Como, naquele tempo, o meu interesse se restringia somente a leituras de poemas rimados, eu li tudo o que Patrícia Neme havia publicado até então. Hoje, mais do que oportuno, considero mais satisfatória a diversificação das temáticas lidas.
Na época, eu tinha alguns poucos escritos, guardados desde a juventude, quando comecei a escrevê-los. No entanto, só gostava de dois: de um soneto e de um poema. O soneto, sobretudo, porque, além de ser o primeiro, retratava o período depressivo pelo qual passou o meu cônjuge.
Num primeiro momento, naquela passagem, alguns colegas de escrita foram relevantes para mim, entre os quais o Trovador das Alterosas, ao qual me considerava mais próximo, até o seu afastamento para tratamento de saúde; e entre outros, a poetisa Esther Lessa, pelo incentivo, assim como a mestra Maria Augusta, por consideração, e ao longo do tempo, a grandiosíssima sonetista Aila Brito, a quem tenho especial carinho pela parceria poética, bem como por admiração a sua obra literária.
Nesse ínterim de afastamento do Trovador, comecei a me interessar pela obra do Poeta Carioca. Embora não fosse — de forma alguma — afeito a temática horrenda de suas obras, eu nelas buscava e percebia uma forma de tentar compreender e de aprender a compor poemas, no que tange a sua forma no todo. Foram os laços de amizade consigo que me propiciaram relevante aprendizado quanto à elaboração de tais criações, assim como a outros poetas que consigo estreitem tais laços, dada a sua disposição em proporcionar conhecimento a quem se interesse. Se até agora não fui capaz de desenvolvê-los como me foi ensinado, por certo, não lhe compete a culpa. E eu sou grato, por bastante, ao, agora, poeta Ricardo Camacho.
Antes da pandemia da covid-19, passei o ano de 2019, praticamente inteiro afastado do Recanto, em consequência de problemas de saúde, ora meus, ora do cônjuge, ora dos sogros, que quase sempre também lhe acometiam, pela exaustão de estar para lá e para cá. Por obra de Deus, os meus pais sempre tiveram apoio dos meus irmãos. Sinceramente, não há nenhuma inspiração poética que sobreviva a tantos infortúnios, por tempo demasiadamente prolongado. Pelo menos para mim. E, conjuntamente àquela insatisfação, apaguei do Recanto, inconsequentemente e de forma definitiva, o que eu já havia publicado.
Minha dor jamais foi maior do que a de qualquer outro ser humano, mas me abalou muito, sobretudo, com a chegada da pandemia e a consequente perda de entes queridos. Primeiro o meu sogro, há muito adoentado, e o paizão de toda família. Depois meu tio Francisco, também muito debilitado e abalado por sua morte. Em seguida, o meu cunhado mais velho — alicerce de uma grande família —, pai e mãe de dois filhos que ficaram desestruturados, emocional, psicológica e, até, financeiramente, pois já não teriam o apoio irrestrito, de sempre, do pai. E, logo em seguida, minha irmã caçula. Nem o fato de a mesma morar em Manaus me deixou menos abalado, pois fora no período da falta de oxigênio naquela cidade. Minha irmã deixou dois filhos, entre os quais uma criança ao qual foi dito que sua mãe agora está dormindo, mas não despertará mais deste sono. Foi e continua sendo doloroso. Minha mãe ficou completamente sem chão, pois nenhuma espera a partida de um filho antes da própria. Até hoje sente muito. Eu também. Todos nós. É bazófia dizer que o tempo ajuda a superar. Quanto mais o mesmo decorre, mais a dor se intensifica.
Psicologicamente, o ano de 2020, para mim e minha família, foi horrendo, o que me levou a perder o interesse pelo que me agradava assistir e até mesmo fazer, como os programas jornalísticos (saturados da pandemia) e os esportes. Então, ao seu final e durante todo o ano seguinte, eu resolvi mergulhar novamente na produção literária. Comecei, aos poucos, revisando o que já estava pronto, mas não publicado, deixando de lado o que já não achava ter importância. Dei nova redação e formato a poemas antigos. E, assim, mergulhando na leitura literária, a inspiração me tornou novamente, ao ponto de pretender lançar o meu primeiro livro, com produções inéditas. Ao menos, já está escrito e revisado.
Atualmente, eu vejo como primordial, para minha saúde física e mental, a produção literária, nem sempre visada às publicações no Recanto; a disponibilização do meu tempo para a folgança com o meu neto — inesperada e única alegria proporcionada em tempo pandêmico —, pois me propiciam bastante felicidade; assim como, quando encontro tempo disponível, para efetuar boas leituras e fazer publicações no Recanto.