Escrevi uma carta pra mim. Não era uma carta de amor, até porque tenho a insípida mania de enumerar amores em ordem e dificilmente me colocaria no pódio.
Tudo bem que o narcisismo não seja saudável, mas nesse caso, a experiência foi válida.
Comecei cumprimentando conforme minha expectativa: era fã de informalidade, disse logo:
- Oi, espero que esteja bem. E indo direto ao assunto falei da saudade que sentia daquela pessoa que era, da leveza com que levava a vida, da forma simples como enxergava as coisas e de preferências.
Disse que compreendia o distanciamento e que a ideia de me ler no outro, ou vice-versa, causava pânico.
Aproveitei para liberar o perdão por cada bola rolada fora da área e os gols contra no campeonato da “good life": jogador nenhum gostaria de passar por esse constrangimento. Mas bola pra frente!
Enfim, quem nunca viveu seus conflitos internos seria incapaz de reconhecer o caos e seus renascimentos.
Perguntei se estava feliz, se tinha conseguido realizar-se em seus sonhos ou se tinha se tornado refém das intimidadoras expectativas alheias, a ponto de não saber o que lhe fadigava ou lhe contraia a musculatura da face.
Perguntei sobre amores e concepções desastrosas que pairavam como nuvens cinzentas sobre a mente, antes das tempestades caírem avassaladoramente e causarem abalos tão fortes quanto os sísmicos de grande magnitude assistidos na terra.
Terminei dizendo que manteria esse contato direto, fora de moda, na tentativa de resgatar os laços que trazia ou arrebentá-los de vez. Escrever com o próprio punho dá uma sensação de pertencimento.
Salvei na pasta evoluir e anexei fotos cronológicas dessa jornada.
De hoje em diante me lerei com outros olhos...