Lula no céu

Isso mesmo. Para tristeza de toda a nação petista, seu grande líder, Lula, faleceu. Em questão de minutos, ele estava na antessala do céu. Um anjo vistoso e educado o recebeu, entregou-lhe uma senha – número 13 – e pediu que aguardasse para ser chamado. Lula olhou para o número, julgando ser apenas coincidência, e esperou impacientemente a sua vez, pois imaginava que, ao adentrar o paraíso, seria recebido com pompa semelhante ao chegar em um comício de seu partido. De repente, a porta do gabinete ao lado, – com uma plaquinha inscrita “São Pedro-Porteiro do Céu”, – se abriu e uma charmosa “anja” chamou solenemente: Sr. Luiz Inácio Lula da Silva.

      Lula entrou na sala e sentou-se em frente a um senhor com barbas longas e cabelos grisalhos. Com uma ficha nas mãos, o ancião olhou para ele e perguntou:

– O que você fazia lá na Terra? – Lula arregalou os olhos cheios de indignação e devolveu a pergunta:

– Não sabe quem sou? O senhor já ouviu falar de Barak Obama?

– Claro que sim. Foi presidente dos Estados Unidos. Ora, quem não conhece – respondeu São Pedro. Então, Lula completou:

– Ele disse para o mundo inteiro que eu sou o “cara”. E o Bill Clinton? Ouviu falar dele?

– Sei quem é – confirmou São Pedro. – Ex-Presidente dos Estados Unidos e um grande palestrante.

– Então, eu e o Bill somos os maiores palestrantes do mundo. Tanto ele como eu, cobramos uma fortuna por uma palestra – contou Lula com altivez.

– É, mas Clinton só se apresenta em países ricos. E você?

– Também dei algumas palestras no exterior. Claro que não em lugares tão chiques. Mas, me apresentei em Cuba, na Argentina, na Venezuela e em Angola. Agora quem gosta mesmo das minhas conferências são os brasileiros. As maiores empreiteiras do Brasil estão entre os meus melhores clientes. Já estive na: Odebrecht, Camargo Correa, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e em uma porção de outras empresas. Conversando com os diretores dessas companhias, eles me disseram que minhas palestras têm um conteúdo de alto nível, o que me deixa extremamente orgulhoso.

      São Pedro, incrédulo, balançou a cabeça e prosseguiu:

– O que mais você fez?

– Eu fui Presidente do Brasil. Não sei se o “cumpanhero” sabe, mas nós dois temos uma carreira muito semelhante: eu saí lá do interior do Pernambuco, fui Presidente do Sindicato dos metalúrgicos e depois Presidente do Brasil. E isso sem estudar. Igualzinho ao senhor que nasceu numa vila de pescadores lá no interior de Cafarnaum, certamente foi Presidente do Sindicato dos Pescadores da Galileia e se tornou Papa. E pelo que sei, como eu, o “cumpanhero” nunca pegou num livro. Aliás, a bem da verdade que se diga: a única diferença entre nós dois é que o senhor tem um dedo a mais do que eu.

      São Pedro balançou a cabeça novamente. Na função há tantos séculos, jamais enfrentou um “casca grossa” desse tipo. Entretanto, tinha que continuar e continuou:

– Mas aqui no seu histórico, constam aquisições irregulares de um apartamento tríplex no Guarujá, um sítio em Atibaia e desvios de dinheiro nas estatais. A lista é enorme.

– Pura truculência, “cumpanhero”. Não acredito que a turma Bolsonaro espalhou fofoca até por aqui. Eu sou pobre, vivo de favores de amigos meus.

– Favores a troco de quê? – arguiu São Pedro, desconfiado. – Pelo que sei, lá na Terra, ninguém dá nada de graça para ninguém. Além do mais, quero que me explique porque algumas empreiteiras andavam pagando suas contas.

– Ora, “cumpanhero” Pedro, quem não pecou naquele mundo. Eu fiquei sabendo que o senhor renegou o seu chefe três vezes antes do galo cantar pela terceira vez.

      São Pedro não gostou da brincadeira e o advertiu:

– Quem está sendo avaliado aqui é você e não eu. Vamos fazer o seguinte: vou lhe encaminhar para um setor anexo ao céu, chamado “Purgatório”. Aguarde lá até que essas dúvidas sejam esclarecidas.

– Não tem “pobrema”. Mas veja se pode me deixar perto de um barzinho, pois, enquanto eu aguardo, posso tomar uma caninha. Sabe como é, né “cumpanhero”, ninguém é de ferro. Já estou com a garganta seca. Desde que cheguei aqui, não pus um golinho na boca.

      Aí, São Pedro perdeu a paciência. E, com razão. Nunca alguém, que ele entrevistou, pediu para tomar cachaça no céu. Ergueu-se da cadeira e, com revolta, falou em tom exasperado:

– Olha só, não tenho tempo a perder. Desça por aquela escada ali na frente e procure lá embaixo por Lúcifer. Se entenda com ele. Tem muita gente ali fora, esperando para ser atendida.

      Lula se levantou e, sem entender a brabeza do “cumpanhero”, desceu as escadas.

      Ao chegar à porta do inferno, – bem diferente da sobriedade do céu, – deu de cara com um sujeito simpático e bonachão que logo o reconheceu. Vestido com uma capa vermelha cintilante e dois chifrinhos caprichosamente lustrados, o cara de braços abertos o saudou:

– Olá “cumpanhero”! Meu grande Presidente, aquele que tirou o Brasil da miséria, acabou com o analfabetismo, criou o Bolsa Família, idealizou o programa “Minha Casa Minha Vida”, fartou a mesa do brasileiro de comida, presenteou a população com o espetacular SUS, acabou com a inflação, eliminou a corrupção, fez do Brasil o país mais seguro do mundo. Não acredito ter a honra de recebê-lo aqui no inferno. Entre que a casa é sua. Escolha onde Vossa Excelência quer ficar. Posso até lhe dar uma sugestão: vá lá para o fundo onde encontrará alguns amigos, gente que fala muito bem de você.

– Quem? – Perguntou Lula, curioso.

– Hugo Chaves e Fidel Castro, “cumpanhero”.

          Com ansiedade, Lula aproveitou-se da amabilidade do anfitrião para fazer um pedido:

– Fico sensibilizado pela sua cortesia e também será um prazer ficar junto com meus amigos, mas, por favor, me deixe perto de um boteco que estou louco pra tomar uma caninha.

– Caninha? O que é isso? – quis saber Lúcifer.

– Caninha. “51”. Pinga. Cachaça. Manguaça. Purinha. Caipirinha. Aguaceira. ... AGUARDENTE.

– Ah! Aguardente ... Mas “cumpanhero”! Acho que está havendo algum mal-entendido. Não confunda: AGUARDENTE COM FOGO ARDENTE. Então, entre e queime-se à vontade.

      Lula, desapontado, concluiu:

– Sacanagem. Isso só pode ser armação daquela “bichinha” do Moro.

 

FIM

 

 

 

 

 

 

Saulo A C Oliveira
Enviado por Saulo A C Oliveira em 01/03/2022
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