O PROBLEMA DEVERIA SER “O QUE”, NÃO “O ONDE”

Há muito mais interesses escusos entre Oriente e Ocidente do que o que nossa comprometida Mídia está disposta a divulgar

Claudio Chaves

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AOS que acreditam na imparcialidade dos meios de comunicação de massa – quer estatais quer privados – uma breve observação: os veículos de comunicação pertencem a empresas; empresas são instituições que vivem de lucro (muiiiiiiito lucro!) e pertencem a pessoas que são chamadas de empresários; empresários são os donos das empresas, que, para continuarem obtendo estratosféricos lucros, dependem de muitos fatores, mas nenhum tão determinante quanto o tipo de políticas econômica e social implementadas pelos governos e seus respectivos governantes.

ORA, os veículos de comunicação são tão empresas quanto qualquer indústria, comércio ou serviço. Por que se comportariam menos ideológica e [principalmente] partidariamente – embora nem sempre de forma explícita – do que as demais? Ou será que existe mesmo quem acredite – além dos que duvidam que a Terra seja esférica e móvel – nessa tão propalada imparcialidade dos veículos de comunicação?

ISTO posto, convido o(a) leitor(a) – diante das informações que os veículos de comunicação colocam ao nosso alcance [e pelas quais eu sou imensamente grato a todos, incluindo os proprietários, que se empenham para isso acontecer] a uma reflexão breve sobre a guerra enquanto fenômeno socialmente mais característico da humanidade do que, por exemplo, o perdão, e, do ponto de vista mais pragmático, como evento factual nesse momento na Ucrânia.

MUITA gente – baseada especialmente nas informações veiculadas pela Imprensa – se sente quase irresistivelmente tentada [e muitos caem na tentação] a acreditar que estamos, de fato, a par de tudo que acontece no contexto da Guerra, inclusive os verdadeiros interesses, os movimentos e estratégias anteriores dos atores responsáveis por sua gestação e eclosão.

MUITOS ignoram [e outros se recusam enxergar] fatores como, por exemplo, interesses – e, por isso, uma possível cumplicidade – de poderosos grupos políticos e empresariais nos “serviços especializados” russos em todo o mundo, como estão fartamente documentados nos casos da saída do Reino Unido da União Europeia e a esdrúxula eleição, nos EUA, de Donald Trump.

ORA, se os dois grandes polos (UE e EUA) supostamente anti-Rússia têm entre seus integrantes [Reino Unido no caso da UE, e Extrema Direita Cristã no caso dos EUA] forças praticamente aliadas a Moscou, como esperar que esses polos se colocarão unilateralmente a favor da Ucrânia, com ações práticas para reprimir o País de Putin?

QUEM nos garante que Putin – com todo o poder de influência que tem sobre o Ocidente (tendo tido Trump como aliado ideológico por quatro anos, e tantos outros simpatizantes de seus exibicionismos pela Europa e mundo afora) e a larga experiência acumulada, tanto no campo da Guerra quanto da geopolítica e da espionagem – não reúna condições favoráveis suficientes para chantagear seus oponentes?

VALE ressaltar também que, na Ucrânia, a opção pelo “político não-político”, o “novo”, o “antissistema”... “redentor”, assim como nos Estados Unidos de Trump e no Brasil do atual Presidente, foi uma decisão do povo, assim como foi na derrubada do presidente [eleito] pró-Rússia (Viktor Yanukovych) em 2014. [Nesse particular – do derruba-se quem foi eleito e, depois, se elege um extremista/entreguista – qualquer semelhança com o Brasil pode não ser apenas coincidência].

OU SEJA, pelo que a Imprensa [“neutra e imparcial”] nos revela – somado a um pouco de leitura da História Universal –, o povo ucraniano, em que pese seu País já ter sido praticamente um império, tem consciência de sua vulnerabilidade e dependência, especialmente no aspecto militar, das grandes potências que controlam o mundo. O grande problema tem sido a qual senhor servir: à Rússia e seus aliados ou aos Estados Unidos e Seus aliados.

NESSE particular, penso que uma pergunta é inevitável – e Putin certamente saberá explorá-la a seu favor: “Quando ameaçados, os parceiros da Rússia [como o histórico caso de Cuba e, mais recentemente, a Síria e Venezuela] recebem o seu apoio e defesa. Que apoio e defesa a Ucrânia recebe nesse momento de seus atuais protetores?” A resposta a esse pergunta leva, inevitavelmente, a outra: “Se é pra ser submisso a uma potência por que não sê-lo àquela da qual historicamente descendemos e a qual mostra, também historicamente, que não abandona os seus protegidos quando estes mais necessitam de sua ajuda?”

QUANTO à aprovação/condenação ou indiferença em relação à Guerra como mecanismo recorrente dos povos para a solução de conflitos, recorrendo mais uma vez à História, me parece ser [a guerra] algo muito mais inerente à “superioridade” da espécie humana em comparação às demais do que propriamente uma questão meramente econômica ou ideológico-partidária.

AFINAL, da defesa do território de onde retira seu sustento à glorificação da divindade a qual serve, passando pela garantia de liberdade e paz, de qual motivo o ser humano ainda não se utilizou para justificar tal estupidez, embora reconhecendo, sem muita resistência, que é exatamente isso [uma completa estupidez] que é a Guerra?

TANTO os apaixonados [ignorantes] quanto os levianos não param de inventar justificativas para defenderem tal estultice porque para ambos grupos, extremismos não são reprováveis por serem o QUE são [extremos], mas por estarem ONDE estão [do lado direito ou do esquerdo].

PRA ESSAS pessoas, a bílis, por exemplo, é amarga não pelo que a compõe, mas devido sua localização: se à esquerda ou à direita. Pra elas, não importa o conteúdo, o determinante é o continente.

E ASSIM tem caminhado a humanidade.