Luciana em busca de tradução

Luciana renascida. Ia se casar, não se casou. Foge do amor. Faz morrer a saudade como um crime, melhor obra do seu talento. Cristalina, rediviva, branca, saída do hospital da lua, permanece só na dor vivíssima. Não ama. É amada. Sem atender preces. Para infligir ao mundo as mesmas amarguras. Sua imagem no espelho é como se fosse a filha do amor que nunca teve. Em torno disso seduz para desaparecimento como a fumaça do defumador marajá das índias. Desaparece. Imprime as decepções e os ressaibos de cada dia ao entardecer dos abandonados. Tudo tem, tudo teve, nada deve. Exceto amar um amor que não se refunde. Precisa destruir a memória desse acontecimento em que se alteia na lembrança com a flama frágil do esquecimento. Usa seu corpo doce, sua voz macia e fluente, alvo do passado condenado e triste.

Quem ama é outra alma que se encanta sem deixar dúvida. Veste-se com graça comedida e dança com musicalidade. Nada, no entanto lhe apaga o primeiro espanto. O espírito não se reforma. Quer vingar no próximo a soberba da antiga paixão errante. Dirigindo escondida um adeus aos olhos que se querem seus.

Assim vai. Abandonando os homens fracos de aço. Antes quer abandonar do que ser abandonada. Toma os sentimentos como um combate. Bajula as sombras finais de cada amante desesperado. Para atormentar os sentidos com sua beleza célebre nos salões, nos botequins, nas zonas libertinas; com as mãos abertas ao canto; ao louvor, ao sonetismo. Deixa rastros de ilusão na areia que o mar apaga e afoga. Para romper em adeus feito de repulsa e sal.

Teme o satírico incomparável a rir dizendo: viúva de muitos! Atribulada de prazeres que nunca sacia das bocas sedentas de afeto. Seu longo período de martírios devorados carrega a calma dos impostores reunidos na mansão oculta. Quer gritar e não sabe. Quer ninar e não consegue. Quer se vingar do primeiro pranto inconsolável. Procura desesperadamente um tradutor exímio, incontestável