O MENINO DO SALGADINHO

O MENINO DO SALGADINHO

Despretensiosamente, caminhando pela ladeira da rua principal, a preferida pelos turistas que visitam a cidade histórica de Pirenópolis - Goiás. Em meio ao caminho cruzamos com um menino que levava a tiracolo uma caixa plástica com vários salgadinhos. Ele andava devagar, com olhar distante, a passos de balé como que dando chute ao vento. Ele já havia distanciado cerca de cem metros, quando, invadido por um sentimento no coração, falei com minha esposa: você reparou aquele garoto como andava um tanto triste Sim! Eu pensei a mesma coisa. Pensei que podíamos ajuda-lo. Certo! Num repente, gritei: Ei garoto, volte aqui! Logo respondeu dando um sinal, e já vindo ao nosso encontro. Perguntei: o que você está vendendo - Salgadinhos! Começamos um bate papo. - Você já vendeu bem hoje - Qual nada, tem dia que a gente consegue vender, mas tem dia que não vende quase nada. - Você está estudando - Sim, hoje até fiz prova, e depois sai para vender salgadinhos. - Que bom! - Você tem uma sacola Não! - Eu queria comprar mais salgados para te ajudar. - Há, mas, o senhor pode enrolar no guardanapo, eu dou dois e o senhor enrola. - Tudo bem, vamos levar dois salgados, ao preço de quatro reais cada. Tirei duas notas de cinco reais e paguei. - Você pode ficar com o troco. - Obrigado! Assim, ele prosseguiu sua caminhada, sem mais dizer. Era um menino bonito, bem arrumadinho, educado, de voz meiga e gentil na sua fala. O detalhe desse sentimento, é que me fez reportar do menino que eu era, talvez em condições mais precárias, quando por conta própria tomava as decisões em conseguir ganhar algum dinheiro. O menino do salgadinho com aproximadamente onze anos de idade, certamente que, em obediência a sua mãe ou pai, se propôs em ajudar nas despesas de casa vendendo salgadinhos. Me veio ao coração muitas lembranças tristes, quando em tenra idade, aos dez anos, aproximadamente. Comprava verdura de uma horta que havia encontrado, cujo proprietário havia dado crédito. Comprava os molhos de couve, cebolinha, coentro, alface e tudo que era plantado na horta. Saia da horta, passava em casa e dividia os molhos, de um fazia três ou quatro outros. Com a cesta bem sortida, colocava sobre a cabeça, passava de casa em casa, gritando: Olha a verdura! Em dias bons, as senhoras donas de casa, de bom grado compravam e elogiando pelo trabalho. Quando hoje, passando pelas ruas de qualquer cidade, em muitas vezes, vejo crianças vendendo jujuba, paçoca, etc. Faço uma ligeira avaliação, se tem cara de pedinte, não dou dinheiro, porém, quando recebido com boa educação, paro o carro e compro sempre boa quantidade. Houve uma ocasião em que tendo encontrado uma criança bem pequena, conversei um pouco e resolvi comprar todas as paçocas dele. Tomei duas delas e disse: "essas são para você comer". - Não, senhor, eu não posso fazer isso! - Mas, como não Eu estou te dando, pode comer. Titubeou por um pouco, mas acabou aceitando. Para mim, o estranho foi a sua postura ética ante a minha oferta, acredito que ele havia julgado que não seria justo fazer isso. De outra feita, foi o garoto do pano de chão. Eu estava a caminho de um mutirão, que nossa equipe do projeto social ia fazer na construção de uma casa para uma viúva. Logo que, retornando do almoço, vi um garoto caminhando lentamente, levando no fino braço um monte de panos de chão. Já era cerca das quatorze horas, quando apressei os passos, gritei: ei garoto, venha aqui. Ele se aproximou, e logo lhe perguntei: - vendeu muitos hoje Não, nenhum. Quanto custa - Três por dez. - Quero meia dúzia. Prontamente ele separou os panos e me entregou, já agradecendo: vou entregar o dinheiro para minha vó, hoje vai ter almoço. - Como assim, vai ter almoço - É que quando não vendo, ficamos sem comida em casa. Ele foi saindo, mais alegre e agradecido. Eu fui para o meu mutirão, agora cheio de remorso: por que não comprei todos os panos Bem que podia estar mais atento aquela realidade tão triste na vida do menino dos panos de chão. Havia perdido uma grande oportunidade de ter feito algo mais significativo. Na minha lembrança de vida infantil, todos esses meninos encontrados e quantos mais eu encontrar, dificilmente vou esquecer de que esses meninos retratam a minha própria realidade de infância. Meninos ou meninos, idosos ou idosas, todos esses merecem atenção especial daqueles que obedecem ao mandamento do amor ao próximo, negar ajuda se constitui num egoísmo e mesmo num pecado. O menino do salgadinho me deu mais essa oportunidade de praticar o amor. Que Deus seja assim glorificado na vida de tantos quantos assim o fizerem.