Vírus e caminhões
Há certos títulos de reportagens jornalísticas que conservam enigmas, e indecifráveis, mistérios, daqueles bem misteriosos, para os quais ninguém tem sequer uma explicação plausível, ou mensagens cifradas cujas substâncias estão além do entendimento humano. Li, há poucos dias, o título de duas reportagens, ambas de canais de notícias, ambos do Youtube, ambos a dar ao público informações importantes - assim penso, pois, sou obrigado a confessar, eu, um pecador impenitente, não acessei tais reportagens para lhes conhecer o teor -, ambas a guardarem, e no título, dados intrigantes. E não me dei ao trabalho de anotar os nomes dos canais que dão-nos a conhecer valiosíssimas pérolas jornalísticas. E por que eu o faria!? Entendi importante os títulos das reportagens, e não o que elas contêm. E são os títulos intrigantes, enigmáticos: "Vamos ter que conviver com o vírus com inteligência."; e, "Motorista de caminhão bêbado destrói 31 carros em acidente na...." - neste segundo ficam as reticências, pois não me interessei em conhecer-lhe toda a extensão. Que o vírus - e trata a reportagem, presumo, do covid-19, vírus que tem a seu serviço o melhor relações públicas com o qual um vírus jamais contou - é inteligente não me resta dúvidas, afinal, ele selecionou, sabemos, seu público alvo e atacou-o, e foi bem-sucedido em sua ação, em certas horas do dia, em certos dias da semana, em certos locais, driblando, sempre, a vigilância sanitária, que, em vão, e a esmo, atacou-o diuturnamente; e que processem o caminhão, que bebeu antes de dirigir, melhor, dirigir-se (não sei se tal caminhão é um criminoso de ficha policial quilométrica, ou um "dimenor", ou um suspeito, ou apenas um menino, uma vítima da sociedade - confesso que não sei qual é o seu estado civil, mas seja qual for que o caminhão não saia impune de sua ação inconsequente).
Ocupei-me em demasia com tais enigmas misteriosos, charadas indecifráveis. Eu poderia dedicar-me à leitura das reportagens que os títulos anunciam, mas decidi, não sei porquê, resumir a minha atividade intelectual a conhecer-lhes a substância lendo-lhes os títulos, unicamente. Foi-me impossível conhecê-las. Deixo-as para estudo dos homens dotados de intelecto privilegiado.