TALVEZ.
Eu sempre gostei de desenho, rabiscava paredes, o chão, cadernos velhos, folhas em branco. Lembro-me do meu primeiro presente, ganhei do meu avô materno, foi uma caneta esferográfica, Bic, vermelha. Naquele dia eu descobri a paixão pela cor vermelha e pelos desenhos. Levei muitas broncas por rabiscar em qualquer lugar. Eu desenhava bonecos desengonçados, casas tortas, árvores monstros, enfim, desenhava tudo do meu jeito, e me achava um artista. As linhas tortas, Os rostos deformados, eram a expressão da beleza na minha ótica. Talvez, se tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande artista.
Talvez.
Na época da escola me encantei pelas aulas de filosofia. As aulas eram ministradas pelo pároco da cidade, o padre Francisco. A Filosofia sempre me encantou. Estudar as escolas filosóficas, os grandes pensadores, idéias, conceitos. Durante um bom tempo, antes do término do colegial, quando me perguntavam sobre qual profissão eu queria ter, eu sempre respondia que seria um filósofo. As minhas melhores notas eram de filosofia. Talvez se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande filósofo. Talvez. Mas... Na estrada da vida tomei caminhos diferentes que levaram para o lado oposto.
Veja que, nessa mesma época da filosofia, eu me vi inclinado a carreira eclesiástica. Nascia em meu coração o desejo de ser um padre. Comecei a procurar por um seminário, Carmelitas descalços, Franciscanos, Beneditinos, havia muitas ordens que eu pudesse escolher. Por fim, optei por uma ordem religiosa por nome, Legionários de Cristo, em Arujá. Me encantou aquele lugar, toda organização do seminário, todo esplendor e beleza. Estudos, Latim, Grego, filosofia, Teologia, humanidades. Era tudo o que eu queria. Não muito depois iniciei o meu candidatado, que era um período de duração curto. Ao término desse tempo, muitas coisas aconteceram que me forçaram a mudar os planos. Talvez se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande sacerdote.
Talvez, mas... Havia uma curva na estrada que me fez mudar de rota.
Uma paixão que percorre em paralelo com todas essas que já citei, é o amor pelas palavras, poesias primeiramente, sendo seguido da prosa. Todas as outras mencionadas anteriormente as considero paixões passageiras. Cada uma teve o seu papel na minha formação e gosto artístico. No caso da literatura, essa, na figura da poesia nasceu de dentro para fora, não é algo que veio de fora. É um tipo de amor difícil de se explicar, que nasce lá dentro. Desde que comecei a rabiscar, ( as primeiras palavras ), a poesia surgiu tímida entre frases curtas, dizeres simples, com o tempo foi ganhando corpo e beleza. Ainda sim, se eu tivesse me esforçando mais, quem sabe eu me tornasse em um grande escritor. Contudo, creio que o tempo ainda me é favorável para realização de muitos sonhos. Alguns citados, a exemplo da filosofia, outros não citados nem mencionados aqui. O talvez presente e constante na crônica não significa estagnação ou desistência de meus sonhos. Para este que vos escreve o talvez tenha um sentido de suspensão momentânea de alguns sonhos, para que no tempo e oportunidade certa tudo aconteça da melhor forma possível.
Enquanto isso.
Fico no talvez.