SEGUINDO PRA OUTROS QUINTAIS
O tempo faz criar na história de duas criaturas diversas coisas.
Faz criar sebo, nata, encardidos, rasgos e tantas coisas esquisitas mais.
Mesmo se essa história fosse só beleza, só riso, só gostosuras,
o tempo com toda maestria possível vai degringolando tudo.
Vai esgarçando seus pilares, vai destroçando suas rimas,
vai estrangulando seu ar.
Até não restar mais ar algum.
Que pena ver aquelas histórias rolando ladeira abaixo,
tresloucadas, descabeladas, desmanteladas,
destituídas do seu cheiro, gosto e cor.
É o boleto pelo tempo ungido, pelo tempo mastigado,
pelo tempo alinhavado ponto a ponto,
sonho a sonho.
Muitos não se dão conta dessa sina, vão levando o barquinho
como se nada tivesse acontecendo,
ou se tivesse acontecendo, seria com o vizinho.
Mas um dia a ficha cai.
E percebemos que o gozo virou fungo, o prazer virou
chaga, o tudo virou nada.
Daí só resta juntar os cacos caídos no chão, fazer a mala
e seguir pra outros quintais.