A MÃO e a razão
A MÃO e a razão
Esparramado no sofá assisto ao vivo, prostrado, a barbárie. Cenas e mais cenas da insanidade dos proclamados humanos. Comentários pululam a todo instante, especialistas em fronteiras, armas, geografia, geopolítica, arsenais, economia, petróleo, agricultura, estratégia, relações internacionais, emitem diagnósticos e desdobramentos. Mostram-se ainda, aqueles senhores engravatados, cheios de empáfias e salamaleques, dando suas declarações e ecoando suas decisões, motivos, sanções, aberrações, senões e mais uma série interminável de ões, justificando o injustificável. Em toda essa paranoia, apenas uma imagem retrata a inviabilidade dos humanos. Numa sala qualquer, de um apartamento qualquer, numa cidade qualquer, da Ucrânia, jaz um corpo, coberto de lençol, em que aparece descoberta, apenas uma mão. Provavelmente, pela posição, o dono da mão, estava segurando um livro, pois ao lado do corpo coberto, há uma estante repleta de exemplares, bem como, tristemente, os escombros de sua morada. A mão está lá, surpreendida pela estupidez, que não se esgota, mas descoberta, parece pedir para que coloquem nela, um livro, e que mãos ainda vivas leiam a não mais poder, para que a razão preserve, quem sabe, outras tantas mãos. Enquanto isso, soam as sirenes, espocam mísseis. Infinitas mãos buscam refúgio, outras, orações, mas não conseguem parar mãos, que direta e indiretamente, não só apertam gatilhos, mas também, rasgam e queimam livros em intermináveis atrocidades.