DEFINITIVAMENTE MAR
O mar fica triste quando os ventos bocejam, preguiçosos toda vida. Nessas horas, orvalhos e garoas se desparafusam da raiz, ficam ao Deus dará. Daí o mar se cabisbaixa, fica ranzinza, emburrado, capenga, Triste, imensamente triste. Mas como é mar, destila de dentro de si punhados de mechas de bem-querer, de bem-acudir, de bem-abençoar. E volta a ficar formoso, penteia seus guizos, arruma seu chão. Então o mar se recompõe afinado, não mais ressabiado, não mais manco, não mais rouco Daí aquela tristeza de rosto largo, cheiro pegajoso e pele macia cai em si. Estica seus braços, apruma o olhar, hasteia sua fé. O mar agora está altivo, nos trinques, ciente de tudo e de todos. Se agiganta despreocupado. arremete seus suores pra além da vista, pra além dos vãos da alma. E volta a sorrir, absolutamente lindo, descaradamente liberto, definitivamente mar.