Uma carta para a morte

Querida morte, hoje eu te vi.

Como sempre faço todas as noites eu estava sentada em um dos bancos no centro da praça. Observar a noite deprimente e melancólica, olhar as pessoas e suas expressões de desesperança se tornou meu passatempo todas as noites frias e silenciosas. Aquele silêncio que para qualquer um de certo modo era agonizante.

Até que eu te vi, sentada em outro banco com as pernas cruzadas e um sorriso no rosto. Ao seu redor o ar parecia tão pesado e escuro, seus olhos me afundavam numa escuridão hipnotizante e apesar de parecerem cansados, você sorria e encarava o nada. Seus lábios rachados e a pele sem vida deixavam claro que você não era desse mundo. Apesar de tudo isso... morte, eu te achei extraordinária.

Em poucos segundos te observando eu soube quem era, mas não tive medo. Eu estava te admirando, sua calma mortal e seu olhar para o nada prendia meu interesse. Você parecia que não tinha me visto ali, sua atenção estava totalmente voltada para onde olhava.

Eu olhei para onde você encarava sem piscar e expressava um sorriso que eu não soube dizer o que era. Mas não tinha nada, apenas a rua escura onde o silêncio parecia encarar de volta para quem olhasse. Eu observei, mas não vi nada além do obvio, então me voltei novamente para você... e fiquei paralisada diante do que vi.

Você me encarava, seus olhos arregalados e um sorriso enorme estampado no seu rosto sem vida. Porém um sorriso diferente do anterior, agora eu sabia exatamente o que expressava...

Naquele momento eu soube o que tinha feito.

Eu olhei para a morte, e ela olhou para mim.

Lanka
Enviado por Lanka em 25/02/2022
Reeditado em 25/02/2022
Código do texto: T7460356
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