Quando você se aventura no seu primeiro encontro às cegas em muitos anos é fundamental ser otimista. Espere sempre o melhor, mas esteja também preparado para o pior e talvez, quem sabe, tenha uma surpresa agradável. Eu disse talvez porque a sinceridade não é uma virtude de quem participa de aplicativos e se for aquele amigo que acha um absurdo você estar solteiro é ainda pior, pois vão lhe apresentar qualquer pessoa, afinal na cabecinha dele seu desespero é latente.

          Contrariando meu bom senso, todos os avisos que a minha consciência tentou me dar, fui a um encontro às cegas. Levei um belíssimo bolo. Ele não apareceu ou apareceu, me viu e simplesmente  foi embora. Um estranho destruiu minha auto estima. Cheguei ao fundo do poço. Na verdade se ele tivesse aparecido seria como uma entrevista no primeiro emprego. Voltei para casa decidido a não passar mais por isso, afinal tenho amigos maravilhosos e não estou desesperado para encontrar alguém. Ok, eu não transaria com um amigo, mas pelo menos eu sou acolhido por eles que pacientemente ouvem minhas lamentações.

          Um colega me disse que eu tenho de continuar tentando para não acabar velho e sozinho. Respirei fundo e não respondi seu comentário absurdamente indecente. Nunca quis ter alguém apenas para não terminar a vida sozinho. Todos nós, por mais que estejamos bem acompanhado, nascemos e morremos sozinho e somos sozinhos na nossa cabeça. A solidão é relativa e muitas vezes podemos até estar com várias pessoas e nos sentir sozinho. Mas se não tenho medo de ficar sozinho, por que ir a um encontro às cegas? Será que lá no fundo me importo com o que pensam a meu respeito? Ou talvez eu seja dependente do amor e das necessidades do meu corpo.

          Paquerar é muito difícil para mim. Eu simplesmente não sei. O máximo que eu consigo é demonstrar de uma maneira tímida que estou interessado. O resto, se a outra pessoa não agir, nada vai acontecer. Sofro com o medo do não. Admiro pessoas que partem para cima, são diretas e dizem logo o que querem. Tenho amigos que recebem um não e cinco minutos depois já estão em outra. Definitivamente não sou um caçador.

          Há muito tempo estava relaxado e não procurava mais ninguém. Estava deixando as coisas acontecerem naturalmente, mas acho que tive uma recaída. Por que não? Gastei tanto tempo procurando minha alma gêmea que talvez tenha esquecido de apenas encontrar alguém. Um cara normal, real, sem idealizações absurdas de contos de fadas. Esqueci que o amor é simples e a felicidade está nas pequenas coisas.

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 24/02/2022
Reeditado em 01/01/2023
Código do texto: T7459670
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