Pequenas histórias 266
Percebeu
Percebeu no pulso da paixão a fraqueza dominando-o.
Sentiu, sentiu e quieto ficou sentado no asfalto ilusório.
Pensava em algo sem pensar especificamente no que.
O fio sutil se enredou nos fios da carne.
Todo o organismo mecânico se enrijeceu.
Parou, parou por que sabia que tinha que parar.
Parou não porque quisesse.
Parou porque o corpo hirto de saudade assim desejou.
E, parado na claridade branca, tentou organizar a vida
Que lhe escapava por entre os dedos da manhã.
Sorriu, sorriu não de tristeza, sorriu um sorrir de quem sabe perder.
Perde-se um lado e se ganha de outro
Pensou a alma sonolenta das ruas.
E, deitado na calçada, abraçou a terra da cidade acalentando o ódio da saudade.
E, dormiu alegremente embalado pelos sons da metrópole sob o cobertor da madrugada.