Pequenas histórias 266

Percebeu

Percebeu no pulso da paixão a fraqueza dominando-o.

Sentiu, sentiu e quieto ficou sentado no asfalto ilusório.

Pensava em algo sem pensar especificamente no que.

O fio sutil se enredou nos fios da carne.

Todo o organismo mecânico se enrijeceu.

Parou, parou por que sabia que tinha que parar.

Parou não porque quisesse.

Parou porque o corpo hirto de saudade assim desejou.

E, parado na claridade branca, tentou organizar a vida

Que lhe escapava por entre os dedos da manhã.

Sorriu, sorriu não de tristeza, sorriu um sorrir de quem sabe perder.

Perde-se um lado e se ganha de outro

Pensou a alma sonolenta das ruas.

E, deitado na calçada, abraçou a terra da cidade acalentando o ódio da saudade.

E, dormiu alegremente embalado pelos sons da metrópole sob o cobertor da madrugada.

Pastorelli
Enviado por Pastorelli em 24/02/2022
Código do texto: T7459256
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