OLAVO BILAC
OLAVO BILAC NA REVISTA O ESPETO
Nelson Marzullo Tangerini
Parece que os parnasianos e a segunda geração parnasiana não estavam tão mortos assim, como os modernistas pensavam. A caravana prosseguia, em meio aos cantos dos sapos desafinados.
As revistas Vida Nova e O Espeto, nos anos 1940, abrigavam, ainda, em suas páginas, um sem número de sonetistas de formato parnasiano, enquanto a crítica literária da época, contaminada pelo ódio modernista a esses poetas, fechava todas as suas portas para quem insistisse em escrever com rima e métrica. Lamentavelmente, nada mudou na crítica literária de hoje, embora os sonetos de Vinícius de Moraes sejam apreciados por uma nova geração apaixonada por literatura. O “Poetinha”, que também escrevia em versos livres, deixou para nós belíssimos sonetos de amor, muitas vezes lidos em saraus de literatura de todo o país.
A revista O Espeto de outubro de 1947, por exemplo, republica, na p. 8, abaixo de sonetos de Bastos Tigre (“Estilo Feminino”), Maurício Marzullo (“Teus olhos”), Luiz Leitão (“Minhas dívidas”) e Nestor Tangerini (‘Dona Ela”), um poema de Olavo Bilac, intitulado “A Cura”:
“Doente a Rita Pascoala,
De febre perniciosa,
Manda o doutor sujeitá-la
A dieta rigorosa.
- Não me coma carne assada,
Nem frangos de cabidela!
Tome caldos e mais nada!
Não coma frutas! Cautela!
Piora a Rita, piora...
E o doutor a desengana...
E chora a doente, chora...
Diz que quer comer banana...
E o marido não resiste,
E ao capricho se sujeita:
Se tem de morrer, a triste,
Morra, ao menos, satisfeita!
Milagre! Salva-se a Rita!
Contra a febre e a morte luta.
E engorda, e fica bonita,
E vive, graças à fruta!
E, agora, a fruta abençoa,
E afirma, constantemente:
- Uma coisa, quando é boa,
Só pode dar vida a gente!
É claro que Bilac nunca pertenceu àquela roda literária da revista, ou mesmo do Café Paris, de Niterói, até porque já havia feito a sua passagem, mas o poeta deixava, neles, o desejo de prosseguir no caminho deixado por aquele rigoroso sonetista. Gerações futuras ainda cultuavam a figura do mestre e seus sonetos. Considerado “O príncipe dos poetas brasileiros”, o carioca ainda ocupa papel de destaque na literatura brasileira.
Tanto isto é verdade, que o soneto XIII de Via Láctea é um dos trabalhos mais declamados de Bilac:
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, poeta, jornalista, contista e cronista, nasceu no Rio de Janeiro a 16 de dezembro de 1865, onde faleceu, a 28 de setembro de 1918. Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, ABL, ocupando a cadeira 15 da instituição, cujo patrono é Gonçalves Dias, um poeta de nosso Romantismo.
4 anos após sua morte, era maldosamente achincalhado na Semana Moderna de 1922.
Apesar de toda essa tempestade, Via-Láctea é um dos mais belos trabalhos poéticos da língua portuguesa.
Que as estrelas de Olavo Bilac cintilem vivas por muitos e muitos anos.