Brechó

Brechó -Marta Souza

(Minha primeira crônica ...

Leiam por favor!!! Kkk)

Quantas histórias guardadas em ti...

Aparentemente um simples depósito de coisas refutadas.

Porém, de uma beleza explicita ou implícita,

depende do olhar sensível de quem o visita.

Sapatos, cintos, roupas, muitas roupas!

- Quem as usou?

- Onde terão ido vestindo-as?

- Que linda blusa de renda lilás com missangas prateadas!

Devia ser mais linda ainda, hoje está desbotada e tem cheiro flor murcha.

- Que riqueza, um terno de linho puro, azul turquesa!

Deve ter sido usado por um magnata. Esquecido no bolso da calça, um bilhete de amor “Te amo, vai dar tudo certo” e no bolso interno do paletó, um lenço branco de linho fino, bordado em dourado, duas letras: P H.

- E aquela obra de arte que nem assinada foi, quem terá feito?

Imagino quantos pensamentos se passavam na mente do artista ao pintar...

Do lado quase esquecida, parecia pedir clemência, uma boneca de porcelana com um delicado vestido rosa, mas lhe faltava uma das mãos. Pobre boneca!

- Oh! quantos sapatos, por onde terão sido levados?

Muitos devem ter ido por lugares secretos.

Talvez para a igreja fazer preces,

Ou para um casamento que tão pouco durou.

Enfim. Quantas histórias contidas em cada peça...

Umas ostentaram magníficas festas, outras que cobriram a nudez da vergonha, por isso foram descartadas. Já outras foram cruciais no ato da conquista.

Bem como outras, que serviram de túnicas para atos tristes, de despedida.

Brechós não guardam apenas roupas e sapatos, coisas descartadas, quinquilharias, mas guardam histórias lindas, feias, alegres ou tristes. É um memorial mudo, que suscitou muita imaginação a poetisa que o viu além da aparência!