MOSAICO

Vamos dar uma pausa nessa correria que a vida nos exige para fazermos uma reflexão sobre o que formatamos ao longo de nossa existência. Paremos para avaliar o que cada um de nós produziu no decorrer desta jornada a qual somos submetidos desde a concepção no ventre materno. Pode ser que várias ideias ou teorias serão apresentadas, pode ser um resumo ou uma extensa epopeia de explanações. Eu, particularmente, tenho uma ideia de que a vida é um mosaico, cuja dimensão varia conforme o desenrolar do que cada ser consegue formatar e moldar ao longo da existência, sendo singular, única, sem a possibilidade sequer de uma réplica existir.

Existem infinitas possibilidades de mosaicos formatados desde o início da existência do homem. Entendo como sendo a junção dos fragmentos de nossas perdas e ganhos durante o linear da vida, diferentemente do jogo chamado de quebra-cabeça, onde cada peça já tem o formato e o local definido para o encaixe em painel estático. O termo mosaico em sua definição mais simples representa a colagem de pequenas peças que são encaixadas em um painel, requerendo organização, disciplina e muita perseverança. Ainda, fazendo uma analogia, penso que a vida é de fato um mosaico, sem dimensões definidas, onde cada ser vai montando o seu, encaixando pouco a pouco as peças disponíveis, – as coloridas que são as conquistas, as alegrias, e as cinzas, sem cores, que são as derrotas, as tristezas –, cujas tonalidades se fundem formando efeitos visuais que dão sentido ao painel, o painel da vida. Não existe o painel mais belo ou menos belo, o mais feliz ou menos feliz, existe o painel do ser, no qual conseguimos as peças encaixar.

Perceba que há de se ter cuidado com a pedrinha a ser encaixada, uma a uma, pois ela só dará forma concreta ao mosaico quando estiver firmemente colocada, por isso não devemos nos precipitar, cabe observar bem a peça em nossas mãos, pois uma vez fixada não haverá a possibilidade de retirá-la. Assim acontece com o nosso comportamento, com as nossas atitudes, com as nossas escolhas e com as palavras proferidas. Quantas pecinhas dessas deixamos de colocar, ou as colocamos fora da ordem natural das coisas? O que dará a verdadeira dimensão desse mosaico são as experiências adquiridas e o discernimento, ou o que traduzirmos de cada pecinha, cada fragmento que nos é apresentado.

Entre as perdas e ganhos, o que nos resta afinal é um mosaico fixado num painel, o qual nunca saberemos se foi de fato concluído, cujo ápice é atingido no derradeiro instante de nossa existência, painel este que é a obra de arte daquilo que produzimos enquanto vivermos. Ainda haverá tempo de aprendermos a colocar as peças, analisando com muito cuidado, e adicionar as que ora temos em mãos. Por isso devemos indagar: o que estaríamos fazendo com as peças fragmentadas, que estão em nosso poder, no exercício da montagem desse imenso mosaico que a vida nos submete?