_______________Dona da Razão

 

 

A Razão convidou a Emoção para um almoço de negócios. Queria provar  que sempre tinha razão e por essa razão ia pedir à concorrente que tirasse o time de campo. A Emoção se pôs toda bonita no seu leve vestido vermelho e partiu ao encontro da sisuda senhora, que tinha sempre um pé atrás para com sua pessoa. Encontrou-a vestida de cinza, toda trabalhada nos neurônios — com cara de quem sabia bem o que pesava. A Emoção, afastando uma mecha brincalhona na testa, e usando o seu tom mais delicado, instigou-a — Pois, vamos lá, Dona Razão!


A Razão cruzou as pernas, fez um olhar distante e inteligente, foi dura, firme e taxativa: o mundo era dos racionais e os sentimentais deveriam se reconhecer como lado frágil da relação.  Assim sendo, ela, a Emoção devia se recolher a seu segundo plano — lugar, aliás, de onde nunca deveria ter saído.  Não via a força dos homens, seres estritamente racionais? Não via a fragilidade das mulheres, seres conhecidos pelas tolas emoções? O mundo dizia, assim o era...


A Emoção ouviu tudo calada e não conteve a emoção. Mas que disparate era aquele?  Será que o mundo sobreviveria sendo apenas racional? Sem chance! Explicou, argumentou, convenceu: — Quem se diz Razão não reconhece o valor do meio-termo? A Razão, rendida pela emoção, engoliu a própria vaidade e partiu completamente sem razão.

 

 

 

Tema da Semana: Quando a razão foi embora (crônica)