Ela se ela
Ela adorava a nadar. E se sentia a nadar por dentre lençóis freáticos e sereia que queria ser. E se chamava de Pequena e era gentil, linda e modesta. E com seis meses começava a nadar na piscininha de sua boa casa perto de uma praia em uma cidade paulistana. E Pequena dedicou a vida inteira a ser professora de natação e queria estudar e faculdade para se fizer nisto. Dizia às pessoas que Pequena ouvia e falava com as criaturas da água do mar. E que também Pequena não se casara jamais e foi virgem perpetua até morrer aos cento e onze anos completos de velhice. Ela começou a nadar profissionalmente com sete anos e aos doze dava já aulas de natação. Os pais Jacinto e Fleuma eram apaixonados pela filha e não deixavam e nenhum rapaz se aproximar dela e nem mesmo beijá-la nos lábios e a filha em tudo isso consentia. Pequena na escola era somente nota dez e não tinha amigos masculinos somente amigos. E vários moleques e homens e de várias idades tentavam fazer-lhe impropérios e lhes dava um belo tapa na face como resposta. Um dia dois rapazes tentaram lhe fazer mal e ela estava nadando sozinha e de repente fora salva por três golfinhos e dois tubarões filhotes seus amigos desde nascimento. E nunca mais nenhum homem se aproximou dela, pois as pessoas falavam que até os animais a protegiam e lhe queriam o bem. Jacinto e Fleuma vivem e este está com noventa anos e a mulher oitenta e um. Eles tiveram mais dois irmãos de Pequena mais foram embora de casa para tentarem vida melhor na capital paulista. Certa vez Pequena se ausentou da casa na praia por dois dias porque fora fazer uma prova de teste de faculdade e quando voltou foi recebida com mais de cinquenta golfinhos, tubarões, arraias e até orcas sentindo a sua falta. E viu que ela era parte importante daquela natureza e decidiu nunca mais sair de lá. E com dinheiro e apoio do governo daquela cidade praiana Pequena construiu um santuário de acolhimento de achados e feridos do mar e restabelecimento de espécies nativas ou locais. E de todos os cantos surgiam casos diversos e até pinguins vieram parar em suas mãos. Três vezes ela cuidou de baleias e outras dezessete com ajuda de amigos as devolveram ao mar. E era linda essa estória de Pequena. E com cento e onze anos Pequena nos deixou e sua alma passou a repousar no céu celeste. Ela cria que cada criatura é feita de matéria e corpo e suas vidas todas valem a pena. Ela deixou dezoito livros sobre sua vida e computadorizou como entender os animais sem fazer mal a natureza e sem fazer mal a si próprio. Pequena era somente o nome, porém grande era seu coração com grande sutileza e nobreza de caráter impar que essa mulher foi. Pena não ter tido filhos, pois se tivesse tido com toda a certeza seriam lindos como a mãe por dentro e por fora num continente de corações apaixonados pela natureza e nutrindo quando morresse um encontro cara a cara com o Criador dizendo: obrigado Deus por ter dado uma chance de viver e hoje reconheço que tudo o que me ocorreu foi pelo meu bem. E Deus dizendo: a vida é linda e deve ser vivido o máximo no Bem e para sempre no Bem, bem-vinda no céu Filha.