A MENTE CRIATIVA DO ESCRITOR
Sem qualquer sombra de dúvida, o escrever nos exige sonhar, não meros sonhos pequenos e singelos, mas devaneios multicoloridos fascinantes, talvez, e até com vistas a diversificar, também pesadelos intrometidos que pincelem um pouco a serenidade com tons sombrios capazes de emocionae e causar suspense. E essa utopia inicia quando montamos com paciência e cuidado no cavalo selvagem da imaginação e saimos em desenfreada disparada, rédeas soltas, pelas pradarias, planícies e florestas da criatividade. Na cavalgada o animal resfolega, cansa por vezes, as patas arranhando o chão das descobertas do imaginário, chega a desanimar aqui e ali, contudo ele jamais pára enquanto não alcançar o seu destino. Então surgem os personagens, as histórias, os dilemas, os dramas, os romances, as poesias, a vida na ficção e no lirismo.
Apesar do intenso alvoroço dessa jornada no lombo indocil do fustigante animal imaginário, sendo ele nada mais do que nossa própria mente em ebulição, a alma do escritor necessita do silêncio da relva e das árvores, do sossego dos pássaros adormecidos em seus ninhos, da calmaria das alcovas trancadas, da triste solidão dos eremitas e da angústia de se sentir abandonado pela humanidade para gerar uma obra. Em seu interior, quem romanceia a saga humana luta contra mil leões e inúmeras tempestades, ao seu redor, no entanto, tudo precisa da serenidade e do mutismo para não atrapalhar a guerra que se desenrola em sua mente, batalha que, ao fim, tem somente um vencedor: o leitor.
Por tal razão, ante as incontáveis dificuldades das quais tem que se desvencilhar para atingir o colimado, por certo muito do próprio escritor se expõe em seu trabalho, como as experiências, as convivências, as alegrias, as tristezas, os traumas do longo da vida, os amores e dissabores, os quais ele recria na odisseia por que passam os protagonistas do texto criativo por ele elaborado. Nenhum escritor foge de si mesmo quando está galopando no cavalo selvagem da imaginação.