O erro
Outro dia, um comentário foi o motivo torpe para um assassinato. Deus é mais? Isso mesmo. Assassinato. A língua bateu nos dentes e Maria linguaruda tornou-se co-responsável pela viagem só de ida, para a cidade dos mortos, de Juninho. Uma vítima do ambiente, cheirador de pó, desafortunado e integrante do núcleo familiar pais ausentes.
Teve uma infância difícil, traumática. Órfão de pais vivo. Seu Benedito, o pai de registro, largou a mãe quando o pobre diabo tinha 07 anos de idade, também, não tinha um emprego, e não parava nos bicos por causa da cachaça. Vivia mais no sindicato dos pés inchados que em casa. E quando estava em casa, a cama era seu eterno descanso.
A mãe, dona Lurdinha, trabalhava como faz tudo na casa de dona Gracinha. Uma moradora da rua principal, que era empregada do mercadinho popular e podia pagar R$30,00 por faxina à dona Lurdinha. Aos olhos do bairro periférico, ela ganhava bem, tinha até empregada. E nestes moldes, garantia o sustento de Juninho.
Quando chegava em casa, cansada e estressada, ia para o cai-duro da esquina beber uma. Gostava de engolir uma dose gorda de conhaque antes de dormir. Era certo. Juninho foi criado pelas ruas do bairro, livre e solto, sem rédeas e cabresto. Escola? Até o quinto ano. Tempo em que a mãe recebeu o bolsa-família, depois ficou inimigo do conhecimento formal e foi aprender na prática a arte das ruas.
Juntou-se aos meninos menos atraentes e impopulares do bairro. Uma gangue de menor infrator que roubava na região. Juninho tinha uma inclinação ao erro, mas os pais também não se importavam. O máximo que ele ganhava era uma surra, ao invés de aconselhamento.
Sem exemplo e orientação experimentou as drogas, e de lá para cá, o vício roubou a parte boa do garoto. Para alimentar a compulsão alucinante, entrou numa viela de infração. Roubava de tudo, até animais já foram moedas de troca para comprar drogas. E um dos cachorros de seu Luizão sumiu.
Foi quando dona Maria entregou Juninho, numa bandeja de lata, sem receber nada em troca, e um corpo ficou estendido no chão. O cachorrinho no mesmo dia apareceu, estava com a vizinha que guardou o filhote para não ser atropelado. Não sei se dona Maria dorme à noite quando coloca a cabeça pesada de achismos no travesseiro, nem é assombrada pelo espírito desencarnado de Juninho, mas Luizão pegou 07 anos de detenção.