Em busca da filha perdida

Eduarda sempre viveu no mundo da Lua. 15 dias depois de completar 18 anos colocou piercing na orelha, tatuagem nos braços, pintou o cabelo de azul e a usar roupas duas vezes maior que seu manequim. E para aumentar o desespero do pai, fez amizade com um grupo de jovens que nunca lhe olharam na cara e nem sequer lhe respondia o cumprimento.

Ao 20 anos foi para a capital prestar exames para o vestibular de Filosofia e Psicologia. Ou um dos dois. As notícias foram ficando raras e lá se vão quatro anos.

Quando parentes ou amigos perguntam por Eduarda, a mãe responde que ela está bem, quase doutora. Argeu, o pai, sempre inventa uma história, sem esconder o desagrado.

Mas em abril, mês de suas férias, vai à capital em busca da filha. Diz para a esposa saber onde procurá-la. Primeiro nas faculdades, se não der resultado, vai na televisão.

A esposa ouve com desdém e responde com “Só para gastar dinheiro, que já é curto... Quando ela quiser, ela vem.”

Argeu não deu ouvidos e cumpriu o prometido. Voltou uma semana depois desolado e foi surpreendido com uma pergunta da esposa.

- Sabe quem esteve aqui na sua ausência? Eduarda. Não pôde esperar sua volta porque estava com a passagem comprada para retornar. Lhe trouxe de presente seis camisas Polo, uma mais bonita que a outra, calças, sapatos. E muitos presentes pra mim. Até perfume daqueles bem caros. Ah, e deixou dinheiro para reformar o banheiro.

- Afinal de contas, onde ela está morando? quis saber Argeu.

- Deixa ver aqui... Escrevi pra não esquecer... Valência, Espanha.

- Espanha? Mas e a faculdade?

- Não falou nada. Cada roupa chique... Tinha comigo que Eduarda estava bem... Algo me dizia isso.

E completou com ironia na voz e no olhar:

- E você preocupado em encontrar a filha perdida.