GALOS & MADRUGADAS
Nada me soa mais poético que um galo saudando um novo dia.
Ainda que soe num poema pincelado de nostalgia.
[ Existem alguns exemplares destes penosos cantantes no quintal de uma casa vizinha. Recolhem-se durante a travessia tarde/noite e quando a madrugada dá o ar da graça com seus cheiros, ventos e mistérios, eles rasgam no bico a textura orvalhada da noite que já se foi ]
Estas cantigas dolentes, soando quase distanciadas, evocam-me as casinholas que não habitei.
Aquelas que plantadas à beira dos caminhos forçam as paragens para contemplações.
Haverá sempre uma bacia pendurada ao lado de fora da parede, uma janelinha entreaberta e uma prateleira logo abaixo, ostentando um balde de zinco com água de poço,um guiné plantado numa lata de leite Ninho e uma caneca de alumínio luzindo ao sol da tarde.
Uma vassoura de cidró cheiroso espreguiçada junto à porta, roupas abanando no varal, uma fornalha e alguns pés de funcho onde as galinhas põem ovos.
Um cachorro vadio estirado no terreiro, uma cerquinha -banguela - de ripas, laranjeiras e figueiras carcomidas pelas ervas,dando frutos no quintal.
Vez e outra uma mulher aparece na porta.Espia os traços do céu, dá uma bocejada, ajeita os cabelos...
[ Parece esperar por alguém que nunca chega ]
Depois recolhe-se naquele bibelô de madeiras sem pintura.
Borboletas vão cerzindo a campina por onde os tico ticos entoam solidões aladas.
Aí você se pergunta:
Meu Deus !
Será que morei aqui , numa outra vida ?
Alheios a minhas lucubrações , os galos do vizinho prosseguem maculando - ainda que docemente - a paz das horas mortas e alguns retalhos de minha sombra refletem-se em sépia na parede
da sala , escorrida de silêncios.
Nada me soa mais poético que um galo saudando um novo dia.
Ainda que soe num poema pincelado de nostalgia.
[ Existem alguns exemplares destes penosos cantantes no quintal de uma casa vizinha. Recolhem-se durante a travessia tarde/noite e quando a madrugada dá o ar da graça com seus cheiros, ventos e mistérios, eles rasgam no bico a textura orvalhada da noite que já se foi ]
Estas cantigas dolentes, soando quase distanciadas, evocam-me as casinholas que não habitei.
Aquelas que plantadas à beira dos caminhos forçam as paragens para contemplações.
Haverá sempre uma bacia pendurada ao lado de fora da parede, uma janelinha entreaberta e uma prateleira logo abaixo, ostentando um balde de zinco com água de poço,um guiné plantado numa lata de leite Ninho e uma caneca de alumínio luzindo ao sol da tarde.
Uma vassoura de cidró cheiroso espreguiçada junto à porta, roupas abanando no varal, uma fornalha e alguns pés de funcho onde as galinhas põem ovos.
Um cachorro vadio estirado no terreiro, uma cerquinha -banguela - de ripas, laranjeiras e figueiras carcomidas pelas ervas,dando frutos no quintal.
Vez e outra uma mulher aparece na porta.Espia os traços do céu, dá uma bocejada, ajeita os cabelos...
[ Parece esperar por alguém que nunca chega ]
Depois recolhe-se naquele bibelô de madeiras sem pintura.
Borboletas vão cerzindo a campina por onde os tico ticos entoam solidões aladas.
Aí você se pergunta:
Meu Deus !
Será que morei aqui , numa outra vida ?
Alheios a minhas lucubrações , os galos do vizinho prosseguem maculando - ainda que docemente - a paz das horas mortas e alguns retalhos de minha sombra refletem-se em sépia na parede
da sala , escorrida de silêncios.