COMPOSITOR ALDO CABRAL

DIÁLOGO NUM BAILE

Nelson Marzullo Tangerini

Prosseguindo em nossa luta contra o esquecimento a que os poetas da segunda geração parnasiana foram relegados, publicamos, agora, mais um sonetista da instigante corrente de resistência aos modernistas de 1922.

Trata-se de Aldo Cabral, nome artístico de Antônio Guimarães Cabral. Autor de inúmeros sucessos da Música Popular Brasileira, Cabral escreveu “Bom-dia” (parceria com Herivelto Martins – gravada por Dalva de Oliveira e Elza Saores), “Mensagem” (com Cícero Nunes – gravada por Isaurinha Garcia, Vanusa e Maria Bethânia), “Pra fazer você chorar” (com Benedicto Lacerda – gravada por Carmem Miranda), “Boneca” e “Despedida de Mangueira” (com Benedicto Lacerda – gravadas por Francisco Alves, o Rei da Voz), “Garçonete” (com Nestor Tangerini - cantada por Mara Rúbia na peça “Chuva de Estrelas”, de Cabral, Tangerini e Mary Lopes), “Santos Dumont” (com Ataúlfo Alves – gravada por Ataúlfo e Suas Pastoras), entre outras músicas que ficaram para sempre na história de nosso cancioneiro popular.

Com o amigo Nestor Tangerini, Cabral escreveu, também, peças teatrais para o Teatro de Revista, como “Boa boca”, “Cadeia da Sorte” e “Chuva de Estrelas”.

Aqui, porém, destacamos seu lado poeta, destacando seu soneto “Diálogo num baile”, publicado na p. 8 da revista carioca O Espeto, edição de 15 de junho de 1947.

Apesar de o seu texto poético ser rigorosamente no metro, decassílabo, forma explorada exaustivamente pelos poetas parnasianos, o seu conteúdo, com linguagem popular da época, como “Mata!” (adivinha!, descobre!) e “Batata!” (correto!), se alinha com a verve modernista:

“Os dois dançavam numa gafieira

Timidamente; não diziam nada.

Ele, porém, num tom de brincadeira

Arrisca uma pergunta, já pensada:

- Cumo é que ocê si chama, frô faceira?

- Vê se divinha! – diz-lhe a interrogada

- Diz uma letra, o menos a premera,

E as sílaba qui tem... feito charada.

- Tá bem, eu vô dizê uma letra só.

Do meu nome a premera letra é ‘Ó’,

I as sílaba são três. Agora ‘mata’!

Ele pensa um instante, e, sem demora,

Entre incerto e convicto, diz: ‘- Orora’?!

Ao que ela, confirmando, diz: ‘- batata’!”

Há uma outra faceta a ser revelada a respeito de Aldo Cabral: era também profundo conhecedor do ‘jogo de damas”, o que fez com que o compositor escrevesse sobre o assunto em suas colunas nos jornais cariocas.

Membro da União Brasileira de compositores, UBC, da União Brasileira de Autores Teatrais, SBAT, o compositor, poeta, jornalista, teatrólogo, humorista e damista, Aldo Cabral nasceu no Rio de Janeiro, a 3 de fevereiro de 1912. Faleceu na mesma cidade a 5 de junho de 1994.

Viúvo de Fleury, também compositora, Cabral deixou, portanto, três filhos: Regina, Aldo (que chamávamos de Aldinho) e Rita. Além de um grande número de fãs, entre escritores e pesquisadores.

Suas canções, memoráveis, mereciam ser regravadas, para que os amantes da boa música apreciassem o belo trabalho deixado por Cabral.

Sugerimos, pois, que o leitor pesquise sobre o compositor no Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Popular Brasileira, Instituto Antônio Houaiss / Instituto Cultural Cravo Albin, escrito por Ricardo Cravo Albin (Criação e supervisão geral), publicado pela Paracatu Editora, em 2006.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 19/02/2022
Reeditado em 19/02/2022
Código do texto: T7455906
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.