Transformação Radical.

Acredito estejamos vivendo dias nos quais se faz necessária uma avaliação do que somos e do que cremos tendo em vista as nossas convicções pessoais manifestadas na vida em sociedade.

Sou judeu, natural de Tarso da Cilícia. Como hebreu de hebreus, fui circuncidado ao oitavo dia conforme preceito da Lei de Moisés. Minha ascendência é benjamita, portanto, da descendência de Benjamin, o filho mais novo de Jacó, o patriarca que deu origem às doze tribos de Israel.

Embora nascido em Tarso, fui criado em Jerusalém onde cursei os meus estudos avançados com o Rabino Gamaliel, conhecido neto do rabino Hillel e o primeiro "rabban" dos sete líderes da Escola de Hillel para atuar como presidente do Sinédrio, instância maior do sistema judiciário dos judeus.

Quanto à Lei, optei por pertencer ao partido religioso dos fariseus, o que me tornou um ardoroso defensor da Lei e dos costumes judaicos, ao mesmo tempo em que me transformei no implacável perseguidor dos cristãos.

No meu entendimento, aquilo me tornava irrepreensível perante o Deus dos nossos pais, uma vez que eu julgava estar agindo conforme a justiça que há na Lei.

Naquele dia, enquanto Estêvão estava sendo apedrejado, eu servi de testemunha do que considero hoje ter sido um linchamento, segurando as túnicas dos que se dispuseram a tirar-lhe a vida. E mesmo depois desse episódio, nos arroubos da minha juventude ignorante eu continuei maltratando e perseguindo famílias de cristãos a ponto de arrastá-los pelas ruas da cidade e encerrá-los no cárcere.

Como escreveria alguns anos depois ao jovem Timóteo, reitero a minha gratidão a Deus que, por meio da fé e do amor em Cristo Jesus, fez transbordar a Sua graça inefável sobre mim, ainda que, pela ignorância e incredulidade eu tenha sido blasfemo, insolente e perseguidor dos cristãos.

Esta experiência eu a tive quando, tendo em mãos cartas do sumo-sacerdote para perseguir e lançar na prisão os seguidores do Caminho residentes na cidade de Damasco, encontrei-me com Jesus de forma sobrenatural.

Por causa do meu zelo sem entendimento, junto com vários companheiros meus empreendi a viagem de Jerusalém a Damasco, cerca de 150 km até o território da Síria. Em meio à viagem que duraria cerca de 05 dias por terreno arenoso e pedregoso em direção ao norte, já às portas da cidade, ao meio-dia, fui meio que atirado ao chão e, envolvido por um forte clarão, ouvi uma voz que falava comigo.

Alguém poderia objetar dizendo ter sido imaginação minha, pois o forte clarão certamente se explicaria por ser meio-dia e por já estar cansado da viagem sob o sol inclemente, portanto, uma alucinação como consequência do calor escaldante.

O argumento parece razoável, todavia, os que viajavam comigo, também foram todos atirados ao chão e viram o forte clarão sem, contudo, entenderem a voz do que falava comigo. E, ainda mais, após dialogar com aquele que falava, ao me levantar eu não conseguia enxergar absolutamente nada, embora todos os demais enxergassem nitidamente.

Você deve estar se perguntando sobre qual teria sido o teor do meu diálogo com aquela voz desconhecida. Pois bem, faço disso o meu depoimento pessoal de que aquele evento mudou a minha vida, alterou completamente os meus planos e, a partir daí, posso admitir que, de perseguidor passei a ser perseguido.

A voz me chamou pelo meu nome perguntando: "Saulo Saulo, por que você me persegue?"

Sem saber a quem me dirigir, eu respondi: "Quem és tu Senhor?"

Tive, então, a minha primeira experiência real com Jesus ao ouvir:

"Eu sou Jesus, a quem você persegue. Levante-se, entre na cidade; alguém lhe dirá o que você deve fazer".

Os que estavam comigo me ajudaram a me levantar e me conduziam pela mão até chegarmos todos à cidade onde fiquei hospedado na casa de um tal Judas que morava numa viela conhecida como a rua Direita.

Durante os próximos três dias, completamente cego, estive absorto em meus pensamentos a respeito daquela experiência sobrenatural que acabara de vivenciar.

A identidade daquele que havia falado comigo não me saía do pensamento. E, por mais que eu me esforçasse para tirá-la da minha mente, a voz martelava-me a consciência reafirmando: "Eu sou Jesus, a quem você persegue...Eu sou Jesus...Eu sou Jesus!"

Mas, como? Eu ainda era muito jovem quando ouvi falar desse tal Jesus que fora crucificado pelos romanos, embora por instigação dos nossos líderes judeus em Jerusalém.

O que me fora dito a respeito dele é que era um herege e um charlatão e que os seus discípulos eram tão hereges quanto ele. Daí a minha fúria em perseguir os que se identificavam como discípulos de Jesus.

Foi então que me lembrei de Gamaliel que chegou a defender alguns daqueles discípulos em uma das reuniões do Sinédrio, imediatamente antes do linchamento de Estêvão. Na oportunidade ele teria dito, e eu estava presente quando o ouvi dizer:

"Cuidado, israelitas. Considerem o que estão para fazer. Eu os aconselho a deixar esses homens em paz e soltá-los.

Se o propósito ou atividade deles for de origem humana, fracassará. Se, porém, for de procedência de Deus, vocês não serão capazes de impedi-los, pois se acharão lutando contra Deus."

Em meu quarto, na casa de Judas ajoelhei-me para orar e reconhecer que, até então, ao perseguir os cristãos eu estava, na verdade, perseguindo a Igreja de Deus, que é o próprio Corpo do Senhor.

Anos depois, eu escreveria aos cristãos que compunham a Igreja que estava na cidade de Corinto:

"Assim como o corpo é uma unidade composta de muitos membros, e todos os membros formam um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Quando um membro sofre, todos sofrem com ele!"

Como eu disse, a experiência vivida na estrada de Damasco mudou a minha vida. No entanto, a bem da verdade, eu já tivera vários encontros com Jesus, porém, na minha arrogância religiosa eu jamais havia parado para pensar que ao perseguir o corpo de Cristo que é a Sua Igreja, eu estava perseguindo o próprio Jesus.

Nas próximas semanas procurarei detalhar um pouco mais o significado desta minha compreensão acerca do evangelho de Jesus, e o meu desejo sincero é que você também seja alcançado pela graça de Deus revelada em Cristo Jesus.

Por ora, desejo reafirmar o que escrevi aos cristãos que se encontram em Roma, suportando com paciência as dificuldades e perseguições por causa da sua fé.

"Se Deus é por nós, quem será contra nós? Estou convencido de que nem a morte, nem a vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor."

Me acompanhe durante as próximas semanas.

Deus te abençoe!

Pr. Oniel Prado

Verão de 2022

13/02/2022

Brasília, DF

Oniel Prado
Enviado por Oniel Prado em 19/02/2022
Código do texto: T7455821
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