Eu existo
Minha voz é tudo o que tenho, e calar os meus sentimentos é mutilar a minha existência. Ao menos permita que eu liberte a minha dor e tenha a sensação de ser ouvido. Não que mude a sua visão e interpretação pessoal em relação a tudo o que não é do seu querer, e o seu agrado é mimado demais.
Sem falar, que, os seus gostos têm um cardápio formatado. Eu posso tentar de todas as formas, entretanto, tem que ser do teu jeito. Tenho que submeter-me aos teus caprichos e ficar fora de sua visão. Não posso ser insurgente, mas gado de corte. Essa mordaça invisível sufoca às palavras que eu não posso trazer ao mundo, uma espécie de aborto forçado.
Essa sensação de morto-vivo é tão degradante, tão limitante, que questiono o porquê de estar vivo. Sinto-me descontextualizado desse formato social onde tudo é para poucos, e o que sobra é cota. Uma cota excludente que, por sua vez, seleciona um grupo de tão partícula que é. Mesmo que eu tenha um grau de conhecimento avantajado, oriundo de instituições do próprio sistema, ainda assim, serei rechaçado.
A minha chance é de zero por cento na escala de probabilidades. E quando quebro essa maratona de dificuldade e ocupo um lugar à sombra, porque ao sol eu já vivo, enfrento uma tempestade cultural. Essa cultura inútil de marginalizar e segregar o indivíduo não tem fim. Como é desesperador passar por tantas barreiras para ter uma oportunidade, e quando finalmente se tem, é amparada por ressalvas.
Coisa de louco! Uma insanidade de valores, costume, cultura e achismos, tudo muito desconexo. Estou cansado de provar o meu valor, passar arrastado pelo poder e ser repetente das escolhas erradas. Neste sentido, não basta preencher todos os requisitos, pois se o brasão não vier de berço, o único jeito é a afinidade e o apadrinhamento, e dominar o assunto é obrigação de aluno.
Face ao exposto, essa concorrência de carta marcada não deixa outra alternativa, a não ser o grito. Através dele eu vejo onde estou, me encaixo e existo.