CAFÉ PARIS, NITERÓI, ANOS 1920

O FIM DA REVISTA “O ESPETO”

Nelson Marzullo Tangerini

Em março de 1948, em meio a uma crise financeira e à falta de patrocínio, O Espeto, enfim, se despedia das bancas e de seu público leitor. E, mais uma vez, Nestor Tangerini republicava, no último número da finada revista, outro soneto do amigo “parisiense” Luiz Antônio Gondim Leitão, autor do livro “Vida apertada”:

“AMOR E ‘NOTA’

A mulher que entre os homens me escolher,

para marido, para companheiro,

entre outros predicados deve ter

o predicado principal – dinheiro.

Só considero o amor interesseiro,

de outra maneira amor não pode haver.

Acima da mulher, ponho, primeiro,

o ‘cobre’, que nos dá vida e prazer.

Amar, somente assim. Amor sem notas

dominou muito nos antigos povos,

nos ‘trouxegas’ das épocas remotas!

Portanto, eu, que sou novo, sou moderno,

apologista dos costumes novos,

exijo da mulher amor e terno..."

Durante 1947 e 1948, portanto, a poesia e a memória do niteroiense seriam sempre lembradas pelo amigo de esbórnia.

Republicado na página 8, Luiz Leitão divide aquele espaço com Nestor Tangerini (poema “Criada sonhadora” – com o pseudônimo Dom T -, e soneto “Confessando”), e Bastos Tigre (“Argumento de defesa”).

A revista que deu espaço a parnasianos, como Olavo Bilac e Bastos Tigre, e à segunda geração parnasiana, como Maurício Marzullo, Aldo cabral, Mazzini Rubano, Walfrido Faria, Lourival Reis (o Prof. Zé bacurau), entre outros, encerrava suas atividades para sempre, repousando, agora, em caixas de papelão por D. Dinah, esposa de Nestor Tangerini.

Passo, para futuras gerações, esse grande legado: a história gloriosa de um grupo de corajosos poetas que ousou formar uma resistência ao Modernismo, inaugurado em fevereiro de 1922.

Aqueles poetas não estavam mortos; não estão mortos. Eles viverão para sempre nas páginas deste livro, que ora divido com meu saudoso pai, o múltiplo artista Nestor Tangerini.

Usando gírias da época, como “cobre” (dinheiro) e “trouxegas” (um reles trouxa), Lili deixa, para os pósteros, um soneto de formato parnasiano, decassílabo, com rimas A-B-A-B, A-B-A-B, A-B-A, A-B-A, mas com um conteúdo explicitamente modernista, prova de sua genialidade como poeta satírico.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 19/02/2022
Código do texto: T7455584
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