E agora? Para onde?

Em qualquer momento no qual não seja possível perceber nada além de um naufrágio, é impressionante como os inícios e os fins se tornam parecidos dentro de uma mesma perspectiva, já que o que passa a vigorar fortemente não é uma certeza, mas um questionamento.

É como quando se está perdido em uma mata e, mesmo portando uma bússola, surge a forte indagação: para onde? A princípio dessa comparação, é importante perceber que constantemente e cada vez mais esse sentimento cresce no ser humano, mesmo sem estar em ilhas desertas ou em matas fechadas.

Isso pode estar relacionado ao fato de que o ser humano, de maneira geral, não tem conseguido assimilar os inícios e lidar com os fins, embora eles sempre tenham sido as forças motrizes de tudo o que conhece!

"E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou. Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia, e tudo acabou, e tudo fugiu, e tudo mofou. Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio — e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?".

Nada melhor que um trecho do poema entitulado "José", do grande escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade, para exemplificar, na mais bela fina arte, a voraz amplitude do nada mesclado ao tudo, acompanhados pelo ensurdecedor som do silêncio da resposta do que sempre tem concluído nossas vidas: um questionamento!

Assim sendo, que se viva disposto a sentir tudo o que um final ensina, a assimilar o que um início proporciona e a desbravar o que um questionamento proclama!