Vó Noquinha não era minha avó, mas era avó de toda a cidade., Espírita Kardecista tinha uma mediunidade muito forte era bastante requisitada por todos. Recebia pessoas de diferentes  crenças e todos saíam com a alma consolada com suas palavras sábias e gentis.

          Morava em uma casa pequena, antiga e a porta estava sempre aberta. Era só gritar seu nome e entrar. Não faltava uma tapioca, um cuzcuz ou um bolo de mandioca que junto com um cafézinho deixava a prosa mais fácil. Todos os habitantes daquela pequena cidade conheciam sua casa. O padre da cidade, antes que falassem alguma fofoca, já adiantou:

- Vou lá para trazer d. Noquinha para a igreja, mas ela resiste e sempre encontra um jeito de me enrolar. Eita velhinha esperta!

          Conheci-a na minha adolescência quando ela me salvou de um bullyng que eu estava sofrendo. Não, ela não tentou me converter, mas tornei-me espírita por causa dela. Como medium ela conseguiu ver minha alma e perguntou se eu não queria visitar, apenas visitar, um centro espírita. Aceitei e nunca mais saí. Minha primeira conversa foi com outro medium que já me deu um abraço de boas vindas. Senti-me tão acolhido, minhas dúvidas foram respondidas e fui aceito como eu sou. Ninguém nunca me pediu para mudar. 

          Quando estava visitando minha avó no interior éramos muito próximo e eu a ajudava em tudo, inclusive no centro espirita. Vó Noquinha foi um bálsamo na minha adolescência e chegou na hora certa para me salvar de coisas piores. Nossas conversas sempre foram muito educativas e como eu aprendi com ela sobre a doutrina espírita.

          Vó Noquinha partiu de volta à pátria espiritual aos 96 anos, pacificamente e uma dia antes participou de um almoço no centro para arrecadar fundos para o lar das crianças que ela ajudou a construir. Abraçou a todos que lá estavam. Foi a sua despedida. A cidade parou para lhe dar o último adeus e o Padre fez um belíssimo sermão. Até minha avó, católica fervorosa, também foi.

          Voltei a cidade três meses depois do seu desencarne e no centro espírita fiz uma oração agradecendo o privilégio de ter convivido e aprendido tanto com ela. Por um minuto senti o cheiro do perfume de lírio que ela usava e uma paz tomou conta do meu corpo. Até hoje sigo muitos dos seus conselhos e nunca esqueço de colocá-la em minhas orações.

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 15/02/2022
Reeditado em 19/02/2022
Código do texto: T7453044
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