À SOMBRA DO IPÊ
Não consigo entender como um órgão tão pequeno, consegue armazenar e contabilizar tanta saudade e por tanto tempo! Incontável tempo... Desde que se atende por gente se tem o tempo entremeado de perdas e são tantas, que se perde a conta, mas o coração, esse órgão tão pequeno que nem sei por quantas vezes vai se transformando e se multiplicando, para armazenar tantos momentos de alegrias, tristeza, dor e saudade.
Por esta e tantas outras razões é que se acredita haver um ser superior que nos governa, ampara e quando necessário, repreende... Esse ser invisível, mas que acreditamos ser um deus e em quem confiamos nossos segredos, nossos apelos, nosso amanhã e cremos ser o PAI de todos nós.
Pela fé se alimenta a esperança de que quando se parte desta, é porque Ele, nos convocou, porque segundo a crença de muitos de nós, enquanto nossa missão não se cumprir, a que Ele nos confiou, quando para cá, viemos, através dos nossos pais, não seremos convocados à prestarmos conta.
Desta, ninguém consegue fugir. Venceu o tempo por Ele estipulado, a missão que nos confiou, terá que ter sido cumprida. Ai, os que aqui permanecem precisam confiar que se aqui ainda ficamos sofrendo a ausência é porque Ele, nos dá força para suportar a saudade que dali em diante fará morada nesse pequeno órgão chamado coração, que tem a capacidade de se multiplicar muitas vezes, para que, ao acreditarmos nesse Deus, que nos ampara, alimentando a nossa fé, de que lá, para onde iremos quando chamados, haveremos de reencontrar os que continuamos a amar.
Segundo muitos de nós cremos, há lugar para os que aqui, seguiram os ensinamento do Pai Maior, e que por isso, há lugar para todos. Que assim seja! Tudo isso, para falar de saudade, dessa saudade que embora o tempo amenize a dor, permanece e vai se acumulando e não sei como esse acúmulo de saudade, cabe nesse órgão tão pequeno que se chama coração e por isso, cremos também, que ele tem o poder dado por Deus de se multiplicar em tamanho.
Falando da minha saudade, já perdi a conta faz tempo! Há dez anos, Deus chamou um dos meus irmãos e há quase dez, outro, e desta vez, minha mana. Antes de um ano, foram pra casa do PAI de todos nós, dois dos onze que éramos.
Minha mana, a última a partir, era apaixonada por ipês. Há quatro anos, consegui uma muda e plantei na pracinha aqui perto de casa. Primeiro, cuidei dela aqui dentro de casa até que ficasse forte para ser transplantada, depois juntei um pouco das cinzas da mana com o adubo e transplantei para a terra. No ano passado já florou, já dá sombra. Ali é para mim um altar, onde deixo transbordar a saudade em forma de prece para ela e para os tantos que já se encontram ao lado do Pai.
Numa tarde assim cinzenta e chuvosa, gostaria de ter todos à minha volta, mas não sendo fisicamente possível, exatamente quando fico um ano mais experiente e sem puder ser abraçada por eles, deixo transbordar em forma de preces, tanta saudade acumulada de todos eles! Meus inesquecíveis e sempre amados pais e irmãos, à sombra deste ipê o qual transformei em um altar.