Dom de iludir

Sim, é uma referência sobre a música do Caetano, mas não muito. O dom de iludir comigo mesma é esse texto.

Eu já desisti de muita coisa nessa vida; desisti de ser uma bailarina, desisti de fazer um curso mais difícil na faculdade, desisti até mesmo de dirigir e agora estou em vias de fato de desistir de tocar violão.

Não me leve a mal, eu sempre quis fazer alguma coisa útil e sempre quis terminar alguma coisa e a única coisa que eu consegui terminar foi meu curso de inglês e mesmo assim eu não falo fluente, eu consigo conversar e até assistir um filme sem legenda mas só isso, não muito. Agora com muito esforço tô tentando tocar violão mas o que vocês não sabem é que eu estou tentando desde os meus 15 anos e sim a culpa é minha. Às vezes eu tento culpar meu pai e a sua exigência de que eu tocasse melhor que qualquer solista de guitarra de banda de folk, o rock, ou Yamandu Costa (em menos de um mês) e agora para tocar eu fico bem travada mas a culpa também é minha. Eu sou muito exigente, sou muito ansiosa e o som não sai como eu queria e então eu fico muito mal.

Comprei curso online, que graças a Deus tem acesso ilimitado e fico me iludindo que um dia vou concluí-lo. E eu nem quero tocar pra participar de uma banda sabe? Eu quero tocar pra mim mesma. Aí que tá eu mesma me iludo. A relação Teia e Teia é bem abusiva. Uma Teia é sonhadora, que acredita, que vai atrás. Já a parceira dela é pessimista, exigente e sempre procura uns casinhos fora de casa pra se divertir. Complicado viver isso.

O id, ego e superego vivem em guerra dentro de mim. Meus "divertidamente" fazem greve, olhando o telão e tentando entender a sinopse. Aí vem trauma do passado, paranoias, esperança, é covid, é vacina, é desemprego, é entrevista, é peso, é exercício, é carência, é beijo. É tudo num silêncio que não existe visto que tenho zumbido no ouvido. É tenso.

Fico vendo vídeos para não desanimar e me iludo que até os 40 (tenho 31), eu possa pelo menos tocar um Eduardo e Mônica no quintal de casa. Dom de iludir do Caetano já é demais pra mim... Ou não.

Têia Agridoce
Enviado por Têia Agridoce em 15/02/2022
Reeditado em 15/02/2022
Código do texto: T7452789
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