A caminho de buscar um pãozinho, eu passava pela Êxito, academia de ginástica aqui pertinho de casa. Pelas laterais de um biombo que separa a porta da rua, eu via os sinais lá dentro. Ao som de um energizante tum, tum, tum, o povo em total frenesi. Num constante entra e sai, a moçada em suas malhas colantes variando entre o roxo, laranja e verde-limão: academias também lançam moda.

 

Vendo a turma bonita, suada e vigorando saúde, eu pensava: Aqui não me pegam nem morta. Sempre fui mais do time matador da Educação Física. Na Queimada, em vez de brigar pela bola, eu me escondia dela atrás das amigas — ainda mais depois que uma bolada trincou um  dente da Célia. Avessa aos suores, foi por precisão mesmo que me rendi à Êxito — depois de muito hesitar, Êxitei.

 

Em ambiente Êxi-tal, nem cri! Aparelhos, cordinhas, argolas, pedais, barras e pesos: me embaralhei total! Observei se o povo me observava:  as moças bonitas e os rapazes sarados sequer sabiam que eu existia — mais focados estavam em suas pernas musculosas, suas cinturas finas e seus braços firmes. Relaxei. Por milagre, avistei duas amigas, ufa! Foi quando rodei  a vista e dei com a vitaminada frase: A zona de conforto é um lugar maravilhoso, mas nada cresce lá. Era a espetada que  faltava. Jurei que ia florescer. Tomara que obtivesse êxito! Pensando em tudo, eu penso: há tanto além do que penso que nem dá pra pensar...

 

Tema da Semana: Além do que penso (Crônica)