Manicômio
Sim, estive lá
Santa Joana manicomial
Entrei por minhas pernas
Caminhei trançando pernas
Decidi ficar
Sedução irresistível
A beleza da entrada se desfaz
Depois da porta de entrada
Grades nas janelas
Corredores sombrios
Manicômio, eu vivi lá
Os piores dias da minha vida
E as melhores pessoas da minha vida
Entre loucos me vi em casa
Me encontrei em cada olhar
Em cada pecado
Em cada história passada
Nos alimentam em grades
Nos lançam pão e café
Comemos feito animais
Vi os olhares do centro da cidade
Pessoas perdidas em sentimentos
E rancores inomináveis
Mas vi amor demais
Dos mais lindos de olhar
Vi o viciado em coca Sergio
Adotar o gordinho do amor
Menino viciado em sexo
Usado e abusado nas redes
Sergio chorava e evitava a alta
Quem cuidaria do gordinho de pau torto?
No manicômio, leitor, um cuida do outro
Lembro da doce Sarita, na cadeira de rodas
Tão torta em cadeira de rodas
“Luis, você voltou!’
Eu não entendi nada
Mas a conduzi em suas rodas
Meu anjo pelos corredores
Sim, eu no manicômio
Amei tantas histórias
O marceneiro que bebeu gasolina
Pois a filha foi abusada
O concurseiro que tomou ritalina
O músico que foi enganado
Quando foi ao banheiro
Seus pais o internaram
E desapareceram
E da moça vocalista
Cantora de banda de rock
Desfilando seus agudos no corredor
Gata... deliciosamente gata
Me pediu pra ir no Madame
Sonho ceifado em pílulas
Lembro do pequeno traficante
De cigarros de tudo mais
Que há por traficar
Paguei por cigarros
Fumei na área de fumar
Há tanto sexo nos banheiros
Mas preservativo não pode entrar
Afinal somos loucos
E loucos não podem trepar
Vi Glacie que matou a mãe
Que havia matado o irmão
Se confidenciar
Menina criada no Canadá
Internada, abandonada
Dor que não sei narrar
Entre loucos me vi em casa
Casa de almas injustiçadas
Sim, eu estive lá
E lá aprendi a ser gente
Se hoje sou homem, sou gente
É porque estive lá