Crônica de um final de tarde de domingo
Era um final de tarde de domingo, de um fevereiro quente. Eu tinha afazeres, preparativos para semana que ia se iniciar, mas o domingo preguiçoso era um salvo conduto para minha postergação: “Faço que tenho que fazer à noite. Agora vou puxar uma cadeira de praia, uma caneta e um caderno e apreciando a tarde, tentar descrever um pouco da paz deste momento.
Andorinhas pareciam aprovar minha decisão e faziam manobras acrobáticas no céu: Looping, voos invertidos, rotas de colisão, alteradas na última hora, faziam parte do seu repertório. Mais acima, um grupo de aves maiores cruzava o céu e, pela direção, tenho para mim que vinham do Parque Bacacheri para algum recanto qualquer em Colombo (quem sabe não estavam fazendo um interparques indo repousar no parque Atuba). Nuvens ao fundo movimentavam se vagarosamente e me faziam lembrar as brincadeiras de infância: alguém se lembra de "Batatinha frita 1, 2, 3"? Pois eu olhava para elas e elas pareciam imóveis, mas era eu mudar o foco da minha atenção e quando eu olhava para elas de novo elas estavam mais adiante e com formatos levemente alterados.
Tentava prestar atenção aos sons daquela tarde, separar do que parecia ser um único som, as diversas fontes que o compunham. Dava para separar bem o canto dos pássaros, mais certo seria algazarra dos pássaros, que na minha imaginação seriam similares a gritaria de uma criançada brincando na rua. Crianças estas, que por sua vez, eu não ouvia: talvez ao invés de rua estivessem em seus quartos, com seus amigos, os videogames.
Conseguia decifrar um fundo de grilos, mas não conseguia identificar a direção - parecia que vinham de todo lugar (inclusive de dentro da minha cabeça – parece que se tampasse os ouvidos este seria um som que persistiria, avisando que tem atividade ali).
O som dos motores dos carros na Avenida Monteiro Tourinho somados ao de eventuais aeronaves também faziam parte daquela sopa de sons. Esta sopa era temperada com o estridente apimentado de esquadrias de ferro em atrito do "janelas fechando", providência preventiva da visita de insetos.
Era o crepúsculo acontecendo. As aves estavam se retirando. Neste momento já busquei um óculos para facilitar na escrita - a luz do dia ia acabando, assim como estava vencendo a validade do meu visto pelas terras da postergação e da contação de crônicas de um domingo preguiçoso.
Ainda bem para vocês. Bom final de domingo e boa semana a todos.