DIÁRIO DA VIDA ADULTA: MUITA SEDE AO POTE
A vida adulta chega e bate à porta. Quando ela se apresenta, não oferece nenhum manual de regras. Uma pena, porque as pessoas racionais não funcionam bem sem objetividade e eu pertenço a esse nicho.
Quando eu passei e vi meu nome no topo da lista, aquele primeiro lugar e a engenharia mecânica fizeram todas as outras coisas parecerem minúsculas. Oitocentos km da minha casa, cidade gigantesca, nenhum conhecimento sobre a vida na cidade grande... Nada disso pareceu eclipsar a sede ao pote. E se há uma coisa que a juventude padroniza é a ausência de medo. Bem, era o que eu pensava.
Fato interessante: essa ausência durou até Petrolina/Juazeiro. Mesmo em outros estados da federação, aquele rio tão vivo e aquela energia de cidade em desenvolvimento só me deixou ainda mais sedenta. Eu pensei: meu Deus, eu finalmente vou me tornar gente!
É que quando não temos uma profissão, a gente não se sente muito humano, parece um pré-estágio. Depois, estando dentro de um meio laboral, você passa a se sentir pertencente a sociedade, porque você passa a arcar financeiramente com ela. Essa é sua contribuição inicial.
Porém, como todo interiorano, o susto ao ver a maior cidade do Nordeste me fez dar quinze passos para trás. "O que é isso?"- eu gritei dentro da cabeça. Prédios gigantescos, periferias por todos os lados, uma infraestrutura titânica.
O primeiro dia aqui foi dolorido, foi muito forte. As informações se embaraçaram e eu, hahahaha, eu que me sentia preparada para qualquer desafio intelectual tremi a espinha. Tenho a impressão que respirei fundo por vezes. A saudade dos meus bichanos dói, dos parentes também. Mas tudo isso ainda é aguçado pelo medo. O medo é muito característico para mim e em mim.
Porém, sabe como é o jovem, não é mesmo? Vai com medo mesmo, não tem outro jeito. Toda essa divergência entre coragem e medo me faz pensar em como a fase adulta é abrupta e tudo é confuso, mas talvez eu só seja matuta e tudo não passe de admiração. É sempre importante pontuar que eu olho para tudo inocentemente, não aquela inocência dos livros do Romantismo, mas aquela inocência pacata, de quem observa quatro vezes até entender.