OLHANDO-ME NO ESPELHO

Não são poucas as vezes que, olhando meu semblante no espelho, sou remetido à imagem de meus pais. Por ser filho deles, claro que, nele há características físicas daqueles que me trouxeram ao mundo há mais de 72 anos. Mesmo que este relato possa parecer tolo, não vou deixar de registrá-lo aqui, neste espaço. De repente pode ser interessante para algum de meus leitores.

Começando pelos olhos, vejo um pouco da ternura do olhar de minha mãe. Acho que percebo neles certa melancolia, típica de seus momentos de reflexão e própria de alguém que estivesse, com certeza, atravessando alguma adversidade. As sobrancelhas, sim, são iguaizinhas. Será que tenho razão? Há realmente em meus olhos a lembrança de mamãe...? Interrompo os movimentos do meu rosto e tento enxergar um pouco daquela criatura tão singela e pura a quem eu tanto amei. Sim, ela deixou em mim características que me marcam muito e que se parecem com ela.

Ainda reflexivo, bloqueio qualquer movimento de meu rosto e tento ver um pouco de meu pai. Começo pelos cabelos. Muitos fios brancos e alguns poucos pretos. Sim, meu pai não coloriu por completo sua cabeça de fios brancos. Apesar de seus mais de noventa anos de idade, quando deixou este mundo, suas madeixas não se tingiram por completo do branco.

Prosseguindo, busco outros detalhes que possam me identificar com meu saudoso genitor. Ah, acho que as orelhas... As minhas não tão pontiagudas como as dele, mas um pouco arredondadas. Grandes. Uma mistura dos formatos: das de papai e mamãe. O nariz não se assemelha ao de meu pai. Mas a boca... Meu lábio inferior me faz lembrar seu sorriso. Este, um pouco mais carnudo do que o superior. Quando estava triste se mostrava talvez meio frouxo, demonstrando que algo o incomodava.

Caro leitor, este texto, certamente, teve o objetivo de tentar ver um pouco de meus genitores em meu semblante. Acho que, tentando ver em mim as imagens de meus pais, ausentes há tantos anos, por já estarem no andar superior. Semblante que, aos poucos, minuto atrás de minuto, horas após horas, meses após meses, anos após anos, me tornam um homem dilapidado pelo tempo, certo de que ele não perdoa e faz-me cair na realidade de que um dia passei por este planeta e estarei em outro plano, o espiritual, no qual acredito.

Finalizando, admito que a saudade de meus genitores pode ser sentida quando enxergo um pedacinho deles em meu corpo, que ainda se encontra presente neste planeta. Por isso construí, com carinho, este conteúdo.

Belo Horizonte, 12 de fevereiro de 2022.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 13/02/2022
Reeditado em 25/02/2022
Código do texto: T7451278
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